Por Jeremy Lovell
LONDRES (Reuters) - O mundo atingirá em 2008 um ponto em que pela primeira vez a população urbana vai superar a rural, disse a Organização das Nações Unidas (ONU) na quarta-feira, alertando para a necessidade de preparativos.
Do contrário, cidades e aldeias podem ficar sobrecarregadas, especialmente nos países em desenvolvimento, segundo Thoraya Obaid, diretora do Fundo Populacional da ONU (UNFPA, na sigla em inglês).
"O crescimento urbano está acontecendo, é inevitável", disse Obaid à Reuters no lançamento do relatório "Situação da População Mundial 2007".
"Mas, a não ser que seja gerenciado, ele vai nos gerenciar e pode se tornar um ninho de turbulência política e conflito armado."
A ONU já disparou esse alarme várias vezes, sendo a mais notável em 2003, num relatório sobre o crescimento das favelas, onde vive um terço da população urbana mundial.
A mensagem do novo relatório do UNFPA é ainda mais clara. Diz que até 2008 3,3 bilhões dos 6,6 bilhões de seres humanos viverão em áreas urbanizadas, chegando a 5 bilhões em 2030. A maioria estará nos países em desenvolvimento, em cidades costeiras, ameaçadas de inundações devido ao aquecimento global.
De 2000 a 2030, a população urbana asiática dobrará, atingindo 2,6 bilhões de pessoas. Na África, o crescimento será ainda mais expressivo, de 294 milhões para 742 milhões. Na América Latina e Caribe, a população urbana deve saltar de 394 milhões para 609 milhões nesse período.
"Se quisermos capitalizar o potencial desta migração urbana, então devemos mudar nossa mentalidade", afirmou Obaid. "As políticas têm de ser mudadas e os investimentos e programas adequados precisam ser feitos. Favelas, pobreza e violência existem porque o crescimento urbano não foi bem gerenciado."
Ela disse que, ao invés de tentar conter o êxodo rural, como normalmente ocorre, os planejadores urbanos deveriam reservar terrenos para serviços básicos, como abastecimento de água, habitação e saneamento, a fim de lidar com o afluxo populacional.
Tal planejamento espacial evitaria que as favelas se proliferassem e permitiria a inclusão dos recém-chegados, especialmente mulheres e jovens, no ambiente urbano e em sua economia.
"A urbanização é uma força do bem se for bem amarrada e bem gerenciada", disse Obaid, citando a maior independência das mulheres urbanas e o melhor acesso a saúde pública e planejamento familiar.
Por outro lado, segundo ela, a urbanização desordenada alimenta a pobreza e a desesperança, criando um mercado pronto para a exploração e o abuso por parte de criminosos e políticos inescrupulosos.
O relatório diz que, ao contrário do que se previa há 10 anos, as megacidades -- com mais de 10 milhões de habitantes -- não são as que mais crescem atualmente. O maior aumento populacional acontece nas cidades de até 500 mil habitantes, que até agora escapavam à atenção dos urbanistas.
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