Corte de juros pelo BC inglês surpreende mas não é suficiente para animar mercados; européias caem forte
SÃO PAULO - A
Bolsa de Valores de São Paulo voltou a ser contaminada nesta quinta-feira, 6, pelos efeitos adversos da crise financeira na economia real. Nem o surpreendente corte de juro de 1,5 ponto porcentual anunciado pelo
BC inglês, para 3% ao ano - a maioria dos analistas esperava redução de apenas 0,5 ponto - conseguiu dar conforto aos investidores. Imediatamente após o anúncio, houve um alívio momentâneo, ainda que as bolsas não tenham conseguido se desvirar do terreno negativo.
Esse alívio, no entanto, foi logo atropelado pela decisão do BC Europeu de cortar o juro em apenas 0,50 ponto porcentual. Os investidores esperavam um corte mais agressivo depois da paulada do BC inglês.
Diante desse cenário tenso no exterior, o Ibovespa já abriu em baixa de mais de 2% e se manteve nessa toada durante toda a manhã, acentuando a queda no início desta tarde. Às 15h41, o índice caía 5,38%, retrocedendo aos 35.752 pontos, mas em meio a um giro financeiro baixo. O pregão deve fechar com volume de R$ 3,7 bilhões.
O clima no exterior segue ruim, refletindo a decepção dos investidores com a decisão do BC europeu. Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em queda de 5,70% e a de Paris caiu 6,38%. Em Frankfurt, a perda foi maior, de 6,84%.
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, disse que a turbulência nos mercados financeiro se intensificou. No caso da zona do euro, ele disse que os dados mais recentes confirmam que a atual situação da atividade econômica enfraqueceu-se significativamente, com a fraca demanda doméstica e externa e as apertadas condições para o financiamento. Trichet também sinalizou que pode haver mais cortes na taxa de juros do BCE.
Nos EUA, as bolsas aprofundavam a queda para mais de 3%, ecoando não apenas o pessimismo na Europa, mas também a debilidade do desempenho das vendas das varejistas norte-americanas em outubro e a redução da previsão de vendas pela Cisco, a após a empresa afirmar que prevê queda de 5% a 10% de suas vendas no trimestre em curso. O Dow Jones caía 3,94%, o Nasdaq 3,56% e o S&P 500 tinha perdas de 4,16%.
Segundo analistas, a valorização do dólar frente ao real hoje também contribuiu para deixar o mercado de ações estressado, na medida em que aumenta a preocupação com as empresas endividadas em moeda estrangeira.
As ações de Petrobras e Vale registram perdas superiores à queda do Ibovespa, respondendo a mais um dia de queda nos preços do petróleo e dos metais. Nem a expectativa positiva com o balanço do terceiro trimestre da Petrobras, que será divulgado na segunda-feira, dia 10, está conseguindo evitar a queda forte dos papéis. O mercado espera um lucro líquido entre R$ 11 bilhões e R$ 13 bilhões para a Petrobras no trimestre. Hoje, o presidente da Vale, Roger Agnelli, admitiu que o último trimestre de 2008 deve ser mais fraco em vendas, por causa da desaceleração da economia mundial.
O setor bancário segue na berlinda. As ações ON do Banco Nossa Caixa dispararam durante a manhã e registravam alta de 10,5%, reagindo à notícia de que o governador de São Paulo, José Serra, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, teriam fechado o preço de venda do banco estadual, em R$ 6,4 bilhões, segundo informa hoje o jornal Folha de S.Paulo. Agora, faltaria apenas o aval do presidente Lula.
Do lado oposto, Banco do Brasil On caía 5,67%. Além das apostas em torno das negociações para compra da Nossa Caixa, o papel também é influenciado pela notícia de que a instituição vai emprestar R$ 4 bilhões aos bancos das montadores, com o objetivo de ampliar a liquidez nesse segmento.
Entre os bancos privados, o dia é de realização de lucros generalizada. A maior baixa era Unibanco Unit, que cedia 4,88% às 13h48. O banco, que anunciou na segunda-feira a união com o Itaú, divulgou hoje cedo o balanço auditado do terceiro trimestre, que veio em linha com a prévia divulgada na semana passada. O lucro líquido no trimestre foi de R$ 704 milhões, queda de 41,3% em relação ao lucro de R$ 1,199 bilhão no mesmo período do ano passado. Itaú PN recuava 5,08% e Bradesco PN -4,41%.
Ainda em relação ao setor, o presidente da Febraban, Fábio Barbosa, disse que os bancos grandes já adquiriram R$ 6 bilhões em carteiras de crédito de instituições menores. Barbosa disse que "o crédito está voltando", mas deixou claro que "não será como antes".