YGOR SALLESda Folha Online
Sem um acordo fechado entre direção e funcionários, a greve da ECT (Empresa de Correios e Telégrafos) deve ser mesmo decidida na Justiça.
O comando de greve informou na manhã de hoje que a greve foi mantida, embora admitam que não faltava muito para fechar um acordo. Com isso, a direção dos Correios deve --conforme prometido ontem-- recorrer ao TST (Tribunal Superior do Trabalho) ainda na tarde de hoje para ajuizar dissídio coletivo.
"Continuamos em greve, mas estamos dispostos a negociar. Esperamos um sinal da direção para isso", comentou José Gonçalves, um dos representantes da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares) nas negociações.
Segundo ele, a estatal avançou na proposta quanto à assistência médica e auxílio-creche, mas manteve a posição em relação à questão financeira. 'O que está pegando é a parte econômica. Falta pouco, mas a direção esta irredutível neste ponto', disse.
A empresa informou que, caso tenha que ir ao TST, a proposta deverá ser menos vantajosa do que a apresentada durante as negociações. Também deverá cortar o ponto --ou seja, os funcionários terão descontados os dias que ficaram de braços cruzados. A promessa é de que isso ocorra até 15h.
Almeida Rocha/Folha Imagem
Produtos Sedex 10 e Sedex Hoje não são aceitos porque dão garantia de entrega
Gonçalves criticou a postura da direção dos Correios na negociação. Segundo ele, se a empresa deixasse de contratar funcionários terceirizados haveria amplo espaço para reajustes. "Os terceirizados ganham R$ 50 por dia e tem funcionário concursado ganhando R$ 500 ao mês", reclamou. "Sem contar que eles não possuem treinamento, entregam correspondência no lugar errado..."
O sindicato não descarta pedir a intervenção do ministro das Telecomunicações, Hélio Costa, para resolver a disputa. A ECT é vinculada a esta pasta. "Se não der certo, vamos procurar até o Lula", disse Gonçalves.
Negociação
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse nesta terça-feira que o governo deverá conceder reajuste aos funcionários dos Correios entre 7% e 9%. Segundo o ministro, isso teria um impacto de R$ 400 milhões aos cofres públicos. Costa não detalhou se o percentual de reajuste seria sobre o salário base ou se entram na conta os benefícios.
Em greve desde a última quarta-feira, os funcionários dos Correios não aceitaram a proposta que prevê abono de R$ 400 e um vale-alimentação extra de R$ 391 em dezembro, reajuste de 3,74%, inclusão dos pais de novos funcionários no plano de saúde e auxílio-creche para até 7 anos de idade.
A direção dos Correios também ofereceu aumento linear de R$ 50 e isonomia no parcelamento da devolução do adiantamento de férias em até 5 vezes e reajuste dos valores de todos os benefícios e gratificações, variando de 13,33% a 5%.
O pedido inicial do sindicato era de reajuste de 47,77% como reposição de perdas salariais do período de 1994 até hoje, um aumento linear de R$ 200, a negociação do plano de cargos e salários para a estatal e a contratação de mais 25 mil funcionários, em especial para o setor operacional.
Atendimento ao público
Segundo a assessoria de imprensa dos Correios, estão paralisados 12 mil carteiros, 1.000 operadores de carga e 386 motoristas --20% do efetivo. A adesão, conforme o comando de greve dos trabalhadores, atinge 24 Estados e o Distrito Federal --pouco mais de 80% dos funcionários.
As agências dos Correios estão funcionando normalmente. Porém, não são aceitos produtos Sedex 10 e Sedex Hoje --todas elas fixam prazos de entrega, que não podem ter garantia de cumprimento por causa da adesão à greve mais forte no setor de distribuição e entre os carteiros.
Contas a pagar
A pessoa que possui contas a vencer e que as receberiam nos próximos dias pelos Correios devem procurar os credores para obter outra forma de pagamento. Segundo o Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), a greve não significa que o cliente pode pagar seus débitos após o vencimento --a decisão depende da empresa que tem contas a receber.
A orientação é para que o consumidor entre em contato com a empresa e solicite outra forma de pagamento --segunda via por e-mail ou fax, por exemplo. O cliente só fica isento de pagar na data caso a empresa não disponibilize outra forma de pagamento --o que deve ser documentado de alguma forma pelo consumidor para ser válido. (clique para saber mais)