JULIA R. ARÉVALO
da Efe, em Islamabad
A campanha eleitoral para o pleito legislativo desta segunda-feira no Paquistão chamou a atenção por reduzidas atividades partidárias e uma constante ameaça de novos atentados, depois do assassinato da ex-premiê Benazir Bhutto.
A Comissão Eleitoral do Paquistão, órgão neutro responsável pela votação, até interveio para encorajar as legendas a realizarem mais atos durante a campanha, classificada por uma fonte diplomática à Agência Efe como "inexistente".
"Se os partidos políticos não acelerarem suas campanhas, temo que a participação nas urnas será muito baixa", disse o secretário da Comissão Eleitoral, Kanwar Dilshad.
A fim de encorajar os eleitores a votar, na última quarta-feira o governo declarou o dia 18 como "feriado".
Após a morte de Bhutto, o PPP (Partido Popular do Paquistão) --ao qual a ex-premiê pertencia-- e a legenda governante trocaram acusações sobre a autoria do assassinato.
Esses primeiros dias de graves denúncias serviram de motivo para o adiamento por 40 dias do pleito, dilatando a campanha e reduzindo sua intensidade.
O PPP realizou no último dia 9 seu primeiro ato público, após o término dos 40 dias de luto pela morte de Bhutto e a apenas nove das eleições.
O comício ocorreu na localidade paquistanesa de Thatta (sul), e não, como queria o partido, no parque Liaquat de Rawalpindi, perto de Islamabad, onde a ex-premiê foi assassinada em 27 de dezembro de 2007.
Os comícios no parque foram proibidos pelas autoridades por motivos de segurança. Sob a mesma alegação o governo desdobrou tropas do Exército para regiões consideradas "sensíveis" em todo o país.
O debate interno criado no PPP após a nomeação de Bilawal, filho de Bhutto, para suceder a ex-premiê, e as conjeturas sobre quem será o candidato a primeiro-ministro caso a legenda venha a ganhar as eleições --o viúvo Asif Ali Zardari ou o atual vice-presidente do PPP, Mahkdum Amin Fahim-- pesaram mais que a curta campanha do partido.
Por outro lado, o partido do ex-premiê Nawaz Sharif, a Liga Muçulmana do Paquistão-Nawaz (PML-N), direcionou suas mensagens políticas com o objetivo de provocar desgaste na imagem do presidente, Pervez Musharraf, e defender uma "grande coalizão nacional", embora esconda suas cartas visando a futuros pactos pós-eleitorais.
O partido governamental, a Liga Muçulmana do Paquistão-Quaid (PML-Q), fez uma série de críticas ao "corrupto" Zardari, com a intenção de evitar que uma alta participação beneficie outros partidos, especialmente o PPP.
E a maioria das legendas islamitas, até agora reunida sob a aliança MMA (Muttahida Majlis-e-Amal), decidiu boicotar o pleito, que contará, no entanto, com a participação do maior dos partidos religiosos, o JUI (Jamiat Ulema-e-Islam).
A campanha se viu prejudicada também pelo temor a novos atentados, motivo pelo qual o governo pediu aos candidatos que extremassem medidas de segurança durante seus comícios e evitassem carreatas.
Em 24 de janeiro último, a Polícia desativou uma bomba colocada em uma ponte próxima ao Tribunal Superior de Peshawar, no norte do Paquistão, minutos antes de uma carreata de Sharif passar pela área.
Em um novo atentado durante um comício do minoritário ANP (Partido Nacional Awami), 27 pessoas morreram no último dia 9 em Charsadda, na Província da Fronteira Noroeste.
Em outro ataque suicida contra um comboio eleitoral do mesmo partido, dois dias depois, dez pessoas foram assassinadas, na conflituosa região do Waziristão do Norte, fronteiriça com o Afeganistão.
Um dos maiores atentados, embora não dirigido contra alvos eleitorais, foi o perpetrado contra a sede do Tribunal Superior de Lahore no início de janeiro, e que deixou pelo menos 20 mortos.
Neste sábado, no encerramento da campanha eleitoral, ao menos 37 pessoas morreram e cerca de 100 ficaram feridas ainda em um atentado suicida em frente à sede do PPP em Parachinar, capital de Kurram, uma das regiões tribais pashtuns na fronteira com o Afeganistão.
Contando com outros ataques suicidas registrados na Província da Fronteira Noroeste, na cidade sulina de Karachi e em Rawalpindi, pelo menos 150 perderam a vida em atentados desde a morte de Benazir Bhutto.
www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u373148.shtml