Erica Akie Hideshima
O piloto Renato Russo, da Stock Car Light, colocou a mão num vespeiro, ao afirmar, em entrevista ao Estado, que há uso de bebidas e substâncias proibidas antes de provas no automobilismo brasileiro. A denúncia pode lhe custar caro: em comunicado oficial, a Confederação Brasileira de Automobilismo diz que a reportagem publicada ontem será enviada à Comissão de Disciplina do tribunal esportivo da entidade, que vai analisar seu teor, com risco de punição ao autor. A CBA não fala em abrir inquérito para apurar o caso e é reticente ao abordar a adoção de exames antidoping para coibir recursos ilícitos em competições.
“Não sou contra nem a favor, mas acho que não vai levar a nada”, afirmou Paulo Scaglione, presidente da CBA, ao referir-se ao antidoping, que conta com o apoio de Cacá Bueno e Luciano Burti, representantes da comissão que estuda melhorias na Stock Car. “No automobilismo, as coisas são bem diferentes do que em outros esportes”, alegou o dirigente. “O caso de doping de um nadador, por exemplo, leva dois, três anos para ser resolvido”, avalia. “Se considerar esse tempo no automobilismo, depois de dois ou três anos o cara nem está mais correndo na categoria.”
Mas, em comunicado oficial divulgado no fim da tarde, a entidade diz que “está atenta à necessidade da implantação do procedimento. Entretanto, mesmo já tendo o patrocínio da Vicar, só vai implantá-lo após a conclusão do estudo feito no projeto apresentado pelo dr. Dino Altmann, que inclui escolha de equipamento, treinamento de pessoal especializado, credenciamento de um laboratório especializado para a análise, entre outras providências.”
Altmann não acredita que o antidoping seja adotado rapidamente (leia abaixo). Isso apesar de vários pilotos e de o próprio promotor da Stock Car, Carlos Col, declararem-se a favor dos exames. “Sou a favor. Já entramos em contato com a Vicar (promotora do evento) e demos toda a liberdade ao Dino Altmann para ele levantar o que é preciso para a realização desses exames’’, disse Col. “O problema não são os custos, mas a aplicação e a regulamentação devem ser feitas pela CBA.”
Os pilotos defendem a adoção dos testes. “Sou 100% a favor”, opina Luciano Burti. “Há dois anos a comissão dos pilotos pede o antidoping. Nós até fizemos um relatório e entregamos ao Col na corrida de Curitiba do ano passado. Eu nunca vi ninguém entrar alterado na pista, até porque droga e bebida não aumentam a performance, mas acho que o antidoping mostraria como nosso esporte é sério e poderia servir de inibidor.”
O bicampeão Cacá Bueno emenda: “O uso de substâncias ilícitas acontece no âmbito social, artístico e até esportivo - não posso falar que não exista, já que o universo do automobilismo é tão grande. Evitaria a entrada de pilotos que não são profissionais na categoria.”
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