MACAÉ - Os dados sigilosos da Petrobras furtados junto a computadores da americana Halliburton foram coletados na plataforma de perfuração NS-21, conhecida também como Ocean Clipper, responsável pela descoberta de gigante de gás natural batizada de Júpiter. A informação, antecipada pelo jornal O Estado de S.Paulo na edição de sábado, foi levantada pelas investigações da Polícia Federal. A descoberta foi anunciada no dia 21 de janeiro e, segundo informou a Petrobras, poderia garantir a auto-suficiência brasileira no consumo de gás. A portuguesa Galp é parceira no projeto. Ainda não há detalhes, porém, sobre o tipo de dados que estavam nos computadores.
Ex-funcionários da Petrobras afirmam que o transporte de informações estratégicas por contêineres não é comum, uma vez que os dados podem ser transmitidos via satélite diretamente da plataforma para a sede da estatal. Um experiente executivo com passagem pela empresa disse que as informações coletadas durante o serviço de perfuração costumam ser apagadas logo após a confirmação de recebimento por funcionários da sede. O professor da Coppe/UFRJ, Giuseppe Baccocoli, porém, diz que não é raro que prestadores de serviço da Petrobras mantenham cópias dos dados para a elaboração de relatórios após o fim das operações.
A Halliburton é especialista em serviços de avaliação dos poços de petróleo, como perfilagem de poços (análise dos tipos de rochas encontradas pela broca de perfuração) e testes de formação, que indicam o potencial produtor de cada poço. Não se sabe ainda qual dos dois serviços foi prestado pela companhia no reservatório de Júpiter. Além disso, as prestadoras de serviços para a Petrobras podem guardar dados sobre o processo de perfuração, como tecnologia usada, dificuldades encontradas e informações sobre pedaços de rocha que são retirados do poço para análise mais detalhada.
A plataforma Ocean Clipper pertence à companhia americana Diamond, representada no Brasil pela filial Brasdrill, e é uma das duas únicas contratadas pela Petrobras com capacidade para perfurar poços abaixo da camada de sal. A empresa já operou no bloco BM-S-9, onde a Petrobras encontrou reservas de petróleo. Atualmente, está em manutenção no estaleiro Mauá, em Niterói, região metropolitana do Rio. Segundo observadores próximos, a embarcação já teria recebido a visita de uma equipe da Petrobras responsável pela sindicância interna que apura o roubo das informações sigilosas.
A reportagem do Grupo Estado tentou conversar com representantes da Brasdrill, mas foi informada que não havia nenhum executivo disponível na base de Macaé ontem. Baccocoli explicou que a tripulação de uma plataforma como essa é formada, em sua maioria, por estrangeiros. Além deles, o trabalho de perfuração conta com o apoio de uma série de empresas terceirizadas, desde os responsáveis pelos serviços de hotelaria até companhias como a Halliburton. ((AE)
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Energia para a Argentina
BRASÍLIA E BUENOS AIRES - Em vez de gás, energia hidrelétrica e combustível nuclear. É com esse pensamento que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje à noite em Buenos Aires onde, no dia seguinte, terá uma série de compromissos com sua anfitriã, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Na tentativa de colocar em marcha projetos discutidos há anos e que até agora não se concretizaram, os dois presidentes assinarão uma série de acordos e protocolos de intenções que incluem a produção compartilhada de energia através da construção do complexo de Garabi, no Rio Uruguai, e a cooperação no enriquecimento de urânio.
Apesar da extensa gama de assuntos que serão discutidos pelos dois presidentes, não há como fugir da questão do gás natural. Afinal, o tema será tratado, depois de amanhã de manhã, em uma reunião entre Lula, Kirchner e o presidente da Bolívia, Evo Morales.
Segundo uma fonte da área diplomática, qualquer mudança de posição do Brasil vai depender do poder de convencimento de Morales. Pelo menos até agora, não houve flexibilização do governo brasileiro. Ontem, pela terceira vez em uma semana, uma autoridade brasileira afirmou que, apesar dos apelos que deverão ser feitos por Cristina, o Brasil não poderá, desta vez, abrir mão de parte das compras de gás natural boliviano para os argentinos.
Depois do presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, e do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, coube ao porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, dar o recado. Ele admitiu o envio de energia elétrica no inverno argentino, que começa em junho deste ano, desde que não haja risco de desabastecimento interno”. O Brasil está convencido de que é necessário que seja cumprida a meta contratada de fornecimento de gás. (AG)
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