CAROLINA FREITAS - Agência Estado
Apesar do esquema de segurança com 100 policiais militares, metade deles da
Força Tática, dez manifestantes do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial
do Estado de São Paulo (Apeoesp) atrapalharam o protagonismo do presidenciável
tucano José Serra na cerimônia de inauguração do Trecho Sul do Rodoanel Mário
Covas. Discretos, entraram no evento e se misturaram entre o público. A presença
deles só foi revelada quando o locutor anunciou o discurso de Serra. Os
manifestantes começaram a apitar e a gritar palavras de ordem contra o governo
estadual.
Serra chegou a titubear antes de começar a falar, mas, depois de um tempo de
silêncio, iniciou o discurso. Sempre que os professores apitavam, o governador
elevava o volume da voz. Questionado se havia ficado chateado com o protesto, o
tucano deu de ombros e respondeu: "Tinha uma meia dúzia."
Ao contrário dos professores em greve, os operários que trabalharam na
construção do Rodoanel aproveitaram o evento para saudar Serra com gritos de
"Brasil urgente, Serra presidente". Imediatamente, o tucano segurou o braço do
deputado Orlando Morando (PSDB), que com o punho fechado gritava o bordão, e
pediu ao microfone: "Aqui, não queremos campanha antecipada, nem de um lado nem
de outro. Se o outro faz, a gente se esforça para ficar quieto." Serra vistoriou
pouco mais de dez quilômetros dos 61,4 km do Trecho Sul do Rodoanel na cabine do
caminhão da piloto de Fórmula Truck Débora Rodrigues. O veículo colorido foi
seguido por um comboio de carros de autoridades e convidados.
"Vistoria"
O anel viário será liberado ao trânsito apenas nesta quinta-feira, às 6 da
manhã, mas o governador comandou hoje no local uma cerimônia para comemorar a
conclusão da obra. O evento foi tratado pela equipe do governo como "vistoria",
enquanto o mestre de cerimônias chamou de "inauguração". Serra deixa o Palácio
dos Bandeirantes na sexta-feira.
Para o tucano, foi uma "inauguração até certo ponto". "Como a minha prestação
de contas do governo é amanhã, eu não poderia vir aqui na quinta-feira",
explicou o governador.
Segundo o secretário estadual dos Transportes, Mauro Arce, no Rodoanel faltam
a pintura de faixas e a limpeza das vias para a liberação ao tráfego.
A obra será uma das principais bandeiras do governador na corrida à
Presidência da República. A vistoria teve discurso de despedida de Serra, que
durou 30 minutos.
Despedida
Serra aproveitou o último evento em obras de sua gestão para agradecer a sua
equipe de governo e, em tom de despedida, falou sobre seu objetivo na vida
pública. Ele dedicou especial atenção aos secretários de Desenvolvimento,
Geraldo Alckmin (PSDB), e da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), e ao
vice-governador, Alberto Goldman (PSDB). O tucano também revisou sua própria
trajetória política. "Meu único sentido na vida pública é me dedicar às questões
do nosso povo. É fazer acontecer coisas boas para o povo brasileiro e lutar
sempre pela igualdade."
O governador disse que, diante da cerimônia no Rodoanel, sentia-se
"plenamente preenchido". "Se eu tivesse de encerrar a minha vida pública hoje eu
sairia contentíssimo pelo que fiz e pelo que ajudei a fazer."
O presidenciável admitiu a contribuição do governo federal para a obra, com
recursos de R$ 1,2 bilhão. O trecho Sul custou, no total, R$ 5 bilhões.
"Insistimos que Lula viesse, mas ele não pôde. Está envolvido com mudanças nos
ministérios", disse Serra. "A contribuição do governo federal representou 24% do
valor da obra. Sem ele, não teríamos bala para fazer a obra", reconheceu.
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