(Transformers: The Movie, 2007)
Por: Thiago Sampaio
Efeitos especiais pra lá de impressionantes, humor refinado, cenas de ação espetaculares e várias nostalgias à série original dos anos 80 fazem de "Transformers: O Filme" um blockbuster quase perfeito ao que se propõe. Uma diversão da melhor qualidade, que, sem dúvidas, já entra para o quadro dos melhores filmes do ano.
Criados na década de 80 pela Hasbro, conceituada empresa de brinquedos, os Transformers – robôs alienígenas que se camuflavam como veículos – marcaram uma era com um excelente desenho animado que gerou uma série de genéricos e revistas em quadrinhos. Era uma diversão para todo jovem daquela década imaginar como seriam tais robôs no mundo real, porém era da consciência geral que, o cinema, por mais que evoluíssem os efeitos, não seria capaz de dar vida a seres tão complexos, pelo menos com extremo realismo. Pois bem, mais de vinte anos depois, eles chegam aos cinemas em uma versão live-action e, mesmo com tamanho avanço de recursos, as pessoas questionam se é mesmo possível a realização de um filme não-animação. Simplesmente não há resposta melhor para tal indagação do que a de conferir o longa, pois não há palavras que definam tal mágica. Sim, é uma mágica ver a magia dos anos 80 ganhando forma concreta e de maneira impecável, idêntica às nossas imaginações. Antes de tudo, quero adiantar que sou suspeito para defender “Transformers”, afinal, cresci assistindo fielmente à série e, até hoje, guardo uma réplica do Bumblebee como talismã. Mas, pelo visto, a encantação não foi só de minha parte, e sim geral.
Na trama, durante séculos, duas raças alienígenas robóticas — os Autobots e os Decepticons — estiveram em guerra, colocando em risco o destino do Universo. Quando a batalha finalmente alcança a Terra, só o que separa os perversos Decepticons do poder total é uma pista guardada pelo adolescente Sam Witwicky (Shia LaBeouf), cujas preocupações, até o momento, estavam relacionadas apenas aos amigos, carros, escola e garotas. Antes que consigam entender o que está acontecendo, Sam e sua amiga Mikaela (Megan Fox) se vêem bem no meio do confronto dos robôs gigantes. E, depois de conhecerem os Autobots, compreendem o verdadeiro motivo: o garoto guarda consigo a chave de um segredo que pode ser a única chance de sobrevivência da humanidade. A partir daí, ele vai descobrir o verdadeiro sentido do lema da sua família: “Sem sacrifício, não há vitória”.
Vamos logo ao que mais interessa: os efeitos especiais estão impecáveis. Que soltem uma bomba na Academia se o filme não levar o prêmio da categoria no ano que vem! Impressionante como tudo soa absurdamente real, e, mesmo ao mostrar os humanos em contato com as máquinas, em nenhum momento notamos alguma diferença entre eles ou sinal de fundo verde. A interação é perfeita. O alto investimento de 150 milhões de dólares (valor até “baixo” se comparado aos 250 de “Homem-Aranha 3” e os 300 de “Piratas do Caribe 3”, visto que “Transformers” se mostra o melhor desses nesse quesito) é perceptível a cada mínimo detalhe. As transformações dos veículos em robôs e vice-versa são uma atração a parte. Conferimos detalhes mínimos se locomovendo para formar um ser gigantesco em questão de 3-4 segundos, com destaque para a impressionante transformação do líder dos Autobots, Optimus Prime, que é nada menos que um caminhão cargueiro. Seus movimentos, seja num leve toque de mão ou em uma agitada seqüência de ação (que inclui as transformações em pleno movimento), são irretocáveis.
E como é ver máquinas gigantescas estrelando cenas de ação que atingem um nível de gigantismo nunca visto até então no cinema? Uma sensação de adrenalina constante. Nunca gostei de Michael Bay como diretor, pois ele sempre se limitou a fazer cenas de ação e negligenciar a trama, mas “Transformers: O Filme” é o filme perfeito para o cineasta, pois ninguém entende melhor de destruição em massa do que ele. Tudo bem, ele continua com aquela mania chata de abusar dos cortes rápidos em edição supersônica, deixando o espectador um tanto perdido perante tamanha confusão visual, mas essa característica é mais perceptível apenas no clímax, quando a tensão realmente tem que ser levada ao extremo ao espectador, por isso, é aceitável. Nota-se seu esforço em fazer deste seu melhor filme, o que ele consegue com sobras (e muitas sobras) e ainda arruma espaço para se auto parodiar na cena em que um jovem, vendo as arruaças dos robôs, corre com uma câmera e diz “isso é melhor do que Armageddon”.
Então se o intuito da produção é manter o clima sempre a mil, o objetivo é cumprido com primor. A cada momento somos surpreendidos com uma cena de ação mais impressionante que a outra. Logo no início, o ataque do Decepticon, Blackout, à base militar causa uma ânsia por tamanha brutalidade e, principalmente, pela perfeição dos detalhes. Acreditem, um robô gigante atirando veículos para todos os lados e explodindo tudo ao seu redor soa algo totalmente crível. Quando acontece a eletrizante perseguição entre Bumblebee e Barricade em seus modos veículos, o espectador (e, principalmente, se for fã) já está com o coração na mão, sentindo-se jogado na adrenalina do filme por completo. Quando chega ao clímax, quando todos os personagem mecânicos confrontam-se entre si (com direito ao confronto entre Optimus e Megatron), bem, já dá para ter uma idéia da emoção transmitida.
Claro que muitos críticos inconformados irão dizer que o roteiro é muito superficial, a história é boba, etc, etc. Mas afinal, em um filme sobre veículos que se transformam em robôs, queriam viagens à la Charlie Kauffman ou paranóias ao estilo David Lynch? A franquia sempre foi marcada pelo ar despretensioso, cujos maiores atrativos são mesmo as cenas de ação e os personagens pra lá de exóticos. Esse é um filme que não tenta esconder sua raiz de “filme pipocão”, até porquê seria muita audácia tentar disfarçar isso. Tudo bem que poderiam se aprofundar um pouco mais no conflito entre os Autobots e os Decepticons no planeta Cybertron (e não a desnecessária citação ao planeta Marte) antes de caírem na Terra. Porém, dentro do possível, o roteiro de John Rogers, Roberto Orci e Alex Kurtzman faz um trabalho correto, aproveitando muito bem os longos 144 minutos de duração, que parecem passar muito rapidamente, de tão contínuo que é o clima tenso.
O molde do roteiro é sim batido, mostrando o bem contra o mal com o mal à procura de algum 'material' que faça expandir mais ainda o mal...e tudo está nas mãos de um garoto, que tem uma série de guardiões do bem. Clichê? Sim, e muito! Mesmo assim, esse é o esqueleto da série oitentista, e o filme faz questão de resgatar muitos detalhes em homenagem aos fãs. Os 'leigos' certamente irão se divertir pelo espetáculo visual, mas os fãs irão sentir um prazer extra ao identificar uma série de referências escondidas. Dentre elas, até uma piadinha sobre o fato de Bumblebee não ser mais um fusca e ser transformado em um Chevrolet Camaro, por motivos de direitos autorais, fato que levou a indignação de muitos fãs. Isso, além de uma série de falas breves como o momento em que Witwicky exclama se os robôs foram produzidos no Japão (país onde os “Transformers” foram de fato inventados). Homenagens estão distribuídas aos montes, ideal para quem curte nostalgias.
Uma vertente fora muito bem abordada pelo roteiro: o humor. “Transformers” é um filme extremamente engraçado, de modo que durante toda a projeção acontecem tiradas cômicas bastante criativas, mas sem nunca cair o clima eletrizante. As tentativas de Bumblebee em seu modo carro de tentar juntar Sam com Mikaela e, principalmente, as cenas em que todos os Autobots tentam se esconder em um jardim de uma casa são de bolar de rir. Tipo de humor não apelativo, que só acrescenta ao ótimo produto final da obra. Como bom filme americano, e estreando em pleno 4 de julho (dia da independência dos EUA), ele não podia deixar de ter suas mensagens políticas, mas nada que se deva levar a sério. Pelo contrário, ele chega até a dar belas cutucadas na terra do Tio Sam, indagando a 'fábrica de verdades' que os EUA fazem, transmitindo ao resto do mundo forçadamente a imagem de país perfeito.
É claro que os fãs conhecedores de todos os personagens irão se incomodar com a aparição maior ou menor de alguns robôs (particularmente, achei que justo o líder Optimus Prime teve poucas chances de mostrar seu potencial em cena), mas isso faz parte em uma franquia superlotada de personagens (vide “X-Men”). Certo é que Bumblebee continua sendo o mais contagiante por seu jeito extrovertido e simpático, além de um exímio e fiel guerreiro. Outros aspectos interessantes também são visados pelo texto, como os paralelos entre a estupidez humana e a negligência dos Decepticons em almejarem guerras. Uma pergunta colocada pelo Autobot Ironhide chega até a ser pertinente: “será mesmo que vale a pena se sacrificar por uma raça tão medíocre e violenta como a dos humanos?”. Bom, pelo visto, a população ainda prefere ficar com a teoria de Optimus Prime, que “os humanos merecem uma chance, pois são seres ainda em evolução, com muito a aprender”. Será? Bom, pelo menos os realizadores do filme conseguiram transformar o sonho de muita gente em realidade, e isso é um belo sinal de evolução.
Sempre existirão aqueles que jamais dirão que um típico "filme pipoca" como "Transformers" é um filme de qualidade, tampouco um dos melhores do ano. Dentro de sua proposta, trata-se de um longa completo, com todos os ingredientes para agradar os que procuram um bom filme de ação e várias receitas extras para levar ao delírio os fãs. Michael Bay definitivamente surpreendeu, e que ele seja bem-vindo na continuação, que sem dúvidas será lançada. Que venham mais "Transformers" e novos personagens. Rodimus Prime (vulgo Hot Rod) seria uma boa opção!