ROBERTO MACHADO
da Folha de S.Paulo, no Rio
O peso da Petrobras na economia brasileira pode dobrar na próxima década, chegando a cerca de 10% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos no país) em 2020- isso sem levar em conta o grosso da produção dos campos de petróleo do chamado pré-sal.
O levantamento, realizado pelo professor Adilson de Oliveira, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), prevê três cenários: com o barril de petróleo custando US$ 80, US$ 100 e US$ 120 no mercado internacional.
Nos três cenários, a pesquisa parte de uma mesma estimativa: a de que a produção diária da Petrobras alcançará 2,3 milhões de barris em 2010, saltará para 3,5 milhões em 2015 e atingirá 5 milhões de barris em 2020.
"Isso marcará uma etapa fundamental: o país passará a ser exportador. Na estimativa, consideramos a produção dos chamados campos do pré-sal numa perspectiva inicial. Ou seja, são projeções bastante conservadoras em termos de produção", diz Oliveira, que coordena o grupo de energia da UFRJ e é considerado um dos maiores especialistas do país no tema.
No primeiro cenário, o peso da Petrobras no PIB brasileiro subiria dos atuais 4,7% para 7,19% em 2020. Oliveira diz que esse é o cenário "pessimista" para a estatal -já que, diante da volatilidade dos últimos meses, não é possível estimar precisamente em que patamar os preços do petróleo se estabilizarão no futuro.
No cenário "otimista" para os cofres da estatal, o preço médio do petróleo se manteria na faixa em que está hoje: próximo a US$ 120 por barril.
Nesse caso, a Petrobras representaria, sozinha, 11,52% do PIB, adicionando à economia brasileira cerca de R$ 450 bilhões a cada ano.
O cenário intermediário prevê o barril a US$ 100, em média, com valor agregado da Petrobras de R$ 371,6 bilhões. A estatal passaria a responder por 9,6% do PIB em 2020.
Peso individual
A metodologia utilizada pelo grupo de energia da UFRJ -que mensura o chamado "valor agregado"- não leva em conta o que a Petrobras "compra" de outros fornecedores, mas apenas o que a própria estatal acrescenta à economia do país.
Ou seja, ficam de fora os bilhões de reais em encomendas de equipamentos e serviços que a Petrobras contrata de centenas de empresas. Também não está computado o próprio faturamento da estatal.
"Se levarmos em conta o valor que a Petrobras adiciona indiretamente, por meio de encomendas e compras, esse número será certamente maior. Mas a pesquisa procura medir o peso individual da companhia", afirma Oliveira.
Nos últimos meses, após o anúncio da descoberta do campo de Tupi -para o qual se estima reservas de até 8 bilhões de barris- e com os primeiros prognósticos para toda a extensão do pré-sal -as estimativas variam entre 70 bilhões e 300 bilhões de barris de reservas-, diversos analistas e centros de pesquisa passaram a estimar o impacto disso para a estrutura produtiva brasileira.
O temor é o aparecimento de um fenômeno conhecido nos meios acadêmicos como "doença holandesa". Reflete a dependência de toda a economia de um país à exportação de uma única commodity -quando os preços sobem no mercado internacional, provocam valorização excessiva da moeda nacional, enfraquecendo os outros setores produtivos e resultando em desindustrialização.
Setor privado
Para outro especialista no setor de petróleo, o geólogo Giuseppe Bacoccoli, da UFRJ, se computadas as contribuições das outras companhias petrolíferas que atuam no país, a participação do setor de petróleo no PIB nacional deve aumentar ainda mais.
"A abertura do mercado tem apenas dez anos. Hoje, a Petrobras representa mais de 90% de todo o setor. Mas a tendência é de redução nesse percentual com o incremento da participação de empresas privadas. Acho que daqui a alguns anos chegará a cerca de 70%. Isso se não houver mudanças nas regras do jogo, evidentemente", diz Bacoccoli. "Nas áreas do pré-sal, a presença de sócios privados ao lado da Petrobras é minoritária, mas não desprezível", afirma o geólogo.
www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u437281.shtml