Ruth Costas, com Afp, Ap e Efe
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, disse ontem que um integrante do grupo rebelde Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) entrou em contato com o governo oferecendo libertar a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt e outros reféns se Bogotá se comprometer a não extraditar um determinado guerrilheiro.
Segundo Uribe, uma carta aceitando tal condição foi enviada ao guerrilheiro pela diretora do DAS (serviço de inteligência colombiano), María del Pilar Hurtado. “Eu disse: envie essa carta. Eu assumo o compromisso. Diga a eles que sim, que nos comprometemos a não extraditar essa pessoa”, afirmou Uribe.
Uribe não divulgou o nome do rebelde nem sua posição na hierarquia da guerrilha. Nos últimos meses, o governo vem oferecendo recompensas de um fundo de US$ 100 milhões a integrantes das Farc que desertarem e libertarem seqüestrados. Além disso, segundo o governo, após se entregarem, eles poderão ir para a França, livrando-se da prisão na Colômbia.
Tal estratégia ganhou força a partir de março, quando Iván Ríos, um dos sete membros da cúpula das Farc, foi morto por um subordinado interessado na recompensa oferecida pelo governo. Na quinta-feira, Uribe disse que seu gabinete estava recebendo muitos telefonemas de rebeldes que queriam sondar o alcance das ofertas para os desertores.
“Não vejo grandes chances de os guerrilheiros entregarem Ingrid tão facilmente”, disse ao Estado o analista Pablo Casas, da Fundação Segurança e Democracia, com sede em Bogotá. “Se os contatos de Uribe com qualquer guerrilheiro para a entrega de reféns estivessem mesmo avançados, o governo não poderia divulgá-los sob o risco de estragar tudo.”
No discurso de ontem, Uribe também descartou a possibilidade de as Farc se transformarem num movimento político. “Os membros das Farc e do ELN que não pensem que chegarão como o M-19 (guerrilha desmobilizada nos anos 80) ao palácio presidencial e ao Congresso, porque hoje a situação é muito diferente”, afirmou.
As Farc mantêm 40 reféns políticos e mais de 700 outros cativos com fins de extorsão. Nos últimos anos, o governo tem avançado na luta contra a guerrilha, que foi acuada nos rincões mais isolados do país.
No domingo, até o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que costumava manifestar simpatia e afinidade ideológica em relação às Farc, pediu que o grupo soltasse todos os reféns sem precondições. “A esta altura, na América Latina, está fora de lugar um movimento guerrilheiro, armado, e isso tem de ser dito às Farc”, afirmou Chávez, que recebeu elogios de Uribe pela declaração.
REUNIÃO COM CHÁVEZ
Segundo a rádio colombiana RCN, Chávez e Uribe podem se reunir em julho numa tentativa de restabelecer totalmente as relações diplomáticas entre os dois países, afetadas desde março, quando tropas colombianas bombardearam um acampamento das Farc no Equador. Na ocasião, Chávez chegou a enviar tropas para a fronteira em solidariedade ao presidente equatoriano, Rafael Correa.
Ainda ontem, o Equador anunciou que três colombianos detidos quinta-feira em Quito sob suspeita de planejar um atentado contra Correa tinham mapas da capital equatoriana e de Caracas e incluíam em seus planos um possível lançamento de foguetes. Segundo Bogotá, os suspeitos são narcotraficantes ligados às Farc.
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