Reuters
BAGDÁ - O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad saudou no domingo o início de um novo capítulo nas relações de seu país com o Iraque, dizendo estar "verdadeiramente feliz" em fazer a viagem histórica a Bagdá, agora que o arquiinimigo iraniano Saddam Hussein não está mais no poder.
Ahmadinejad é o primeiro presidente iraniano a visitar o Iraque desde que Saddam, em 1980, iniciou uma guerra desastrosa de oito anos contra o Irã, que deixou 1 milhão de mortos. E é o primeiro líder de um país da região a visitar o Iraque desde a invasão liderada pelos EUA em 2003.
Assim, sua visita ao país em que os EUA mantêm mais de 150 mil soldados possui valor simbólico, além de reforçar os laços econômicos e culturais entre os dois países vizinhos, ambos governados por maiorias xiitas.
- Esta visita vai abrir um novo capítulo em nossas relações bilaterais e favorecerá o ambiente de cooperação na região - disse Ahmadinejad em coletiva de imprensa ao lado do presidente iraniano, Jalal Talabani.
- Uma visita ao Iraque sem o ditador é verdadeiramente feliz - disse ele, falando de Saddam, que foi executado pelo governo iraquiano em dezembro de 2006.
Ironicamente, sua viagem só foi possibilitada pela invasão liderada pelos EUA, seu inimigo de longa data. Ahmadinejad já pediu várias vezes a saída das forças americanas, às quais culpa pela violência sectária que matou dezenas de milhares de iraquianos desde 2003.
Washington diz que Teerã dá armas e treinamento às milícias xiitas para que ataquem tropas dos EUA. Teerã desmente a acusação. Analistas dizem que o Irã quer um Iraque estável mas, ao mesmo tempo, quer dificultar a situação das forças de ocupação americanas.
- Um Iraque desenvolvido, forte e unido vai beneficiar a todos - disse Ahmadinejad, primeiro presidente iraniano a visitar o Irã desde a Revolução Islâmica nesse país, em 1979.
Muitos dos líderes xiitas iraquianos se exilaram no Irã durante o longo governo de Saddam, e analistas dizem que Ahmadinejad vai usar sua visita para mostrar a Washington que Teerã é uma influência forte no Iraque, que não pode ser ignorada.
Para combater os esforços dos EUA de isolar Teerã no palco internacional devido a seu programa nuclear, o presidente iraniano vem procurando melhorar as relações com os Estados árabes da região.
Sua visita a Bagdá se dá um dia antes de o Conselho de Segurança da ONU decidir pelo voto a aplicação de uma terceira rodada de sanções contra o Irã devido a seu programa nuclear, que Teerã diz ter finalidade pacífica mas que os EUA afirmam visar a fabricação de armas nucleares.
Autoridades dos EUA em Bagdá disseram que não exercerão nenhum papel na visita de Ahmadinejad e que as forças americanas não o protegerão em seus deslocamentos.
Depois de chegar ao aeroporto de Bagdá, Ahmadinejad foi ao palácio presidencial de Talabani em comboio de automóveis. Os dignitários estrangeiros geralmente cobrem o trajeto de helicóptero, para evitar a estrada perigosa do aeroporto.
Diferentemente do sigilo forte que cerca as visitas não anunciadas do presidente Bush, para reduzir os riscos de ataques, a visita de Ahmadinejad foi amplamente anunciada. E, diferentemente de Bush, o presidente iraniano vai passar uma noite em Bagdá.