segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

'Bicho' alemão gosta dos filmes que Brasil produz

Urso de Ouro ajudou Central do Brasil a fazer carreira e conduziu filme ao Oscar




Luiz Zanin Oricchio



Tropa de Elite leva o Urso de Ouro exatamente dez anos depois de Central do Brasil trazer o troféu do Festival de Berlim pela primeira vez ao Brasil. Experiências são irrepetíveis, mas convém lembrar que o Urso fez muito bem ao filme de Walter Salles.


Depois de vencer o festival alemão, o filme participou do Festival de Cinema de Recife, onde recebeu uma histórica ovação, sendo aplaudido de pé durante mais de dez minutos no superlotado Centro de Convenções Guararapes, onde cabem 4 mil pessoas. Dado curioso: Fernanda Montenegro, encantada com a euforia do público, dizia baixinho para o garoto Vinicius de Oliveira, então com 11 anos, que com ela contracenava no filme: “Aproveite bem, porque não é sempre assim”.


Vinícius era um estreante e teve a sorte de trabalhar ao lado de algumas feras do cinema nacional. Além de Fernanda, integravam o elenco Marília Pêra, Othon Bastos e Matheus Nachtergaele, entre outros.


E Vinicíus logo deve ter entendido o significado daquilo que a atriz consagrada lhe dissera. Pois nem sempre o sucesso de um filme abre caminho suave para os novatos, pois ele não teve, até agora, a carreira de sucesso que seu primeiro papel no cinema prometia. Mas permaneceu na profissão. Trabalhou em alguns curtas e agora faz parte do elenco de Linha de Passe, novo longa de Walter Salles, que está sendo rodado em São Paulo. Tenta ainda a sorte como assistente de direção de José Eduardo Belmonte, cujo novo filme está em processo de finalização e tem o título, talvez premonitório, de Se Nada Mais Der Certo.


De qualquer forma, para a carreira de Central do Brasil, a premiação de Berlim foi preciosa. O filme fez uma bela carreira interna, atraindo um público de 1,6 milhão de espectadores aos cinemas brasileiros . Depois do Urso, ganhou mais de 40 troféus em festivais pelo mundo afora.


Tal sucesso se refletiu nas indicações para o Globo e Ouro e Oscar no ano seguinte. Concorreu ao prêmio da Academia em 1999 em duas categorias: melhor filme estrangeiro e melhor atriz (Fernanda Montenegro). Por falta de sorte, Central topou pela frente com o bicho-papão A Vida É Bela, de Roberto Benigni, e Fernanda perdeu o troféu para a estrela emergente da hora, Gwyneth Paltrow, que concorria pelo trabalho em Shakespeare Apaixonado.


Cabe lembrar que Berlim tem sido historicamente mais interessado do que os outros festivais de primeira linha no cinema brasileiro. Além dos dois Ursos de Ouro, concedeu alguns de Prata, entre outtros para Os Fuzis, de Ruy Guerra, e Brasil Ano 2000, de Walter Lima Jr. O festival foi generoso também com as atrizes. Além de Fernanda, ganharam em Berlim Ana Beatriz Nogueira (por Vera, dirigido por Sérgio Segall Toledo) e Marcélia Cartaxo (por A Hora da Estrela, de Suzana Amaral).


Sobre Marcélia, há uma história engraçada contada pelo ator José Dumont, seu partner no filme. Eufórica com a premiação em Berlim, Marcélia teria conseguido ligar da Alemanha para sua mãe, em Cajazeiras, no interior da Paraíba:


– Mãe, estou levando um Urso de Prata para casa!


E a velhinha, preocupada:


– Traga não, minha filha, que esse bicho aqui não se cria.


Entre os grandes festivais, resta ao Brasil quebrar o tabu de Veneza, cujo “bicho”, o Leão de Ouro, até agora também não se ambientou ao nosso ecossistema cinematográfico.


http://txt.estado.com.br/editorias/2008/02/18/cad

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