RIO DE JANEIRO - Dois laptops (computadores portáteis) e um disco rígido com informações sigilosas e estratégicas da Petrobras foram furtados de um contêiner que estava sob a guarda da Halliburton, empresa americana prestadora de serviços à estatal, em Macaé (a 188km do Rio). A PF (Polícia Federal) suspeita que o crime seja parte de esquema de espionagem industrial. Os dados desaparecidos são referentes às recentes descobertas de reservas de óleo e gás da estatal. Estavam armazenados nos equipamentos da Halliburton, que os transportaram do Porto de Santos para a base da Petrobras na Bacia petrolífera de Campos, em Macaé. Dentre as descobertas está a do campo de Tupi (Bacia de Santos), a maior já realizada no país. Suas reservas (ainda dependentes da certificação final) são estimadas entre cinco bilhões e oito bilhões de barris.
Ao todo, o Brasil tem hoje 14 bilhões de barris. As primeiras revelações sobre o furto foram divulgadas na internet na manhã de ontem pelo portal Terra. A Petrobras foi informada do furto no dia 1º deste mês, quando a Halliburton percebeu que o contêiner havia sido violado. A estatal realizou uma investigação interna e, no mesmo dia, véspera do Carnaval, informou sobre o desaparecimento do material à Superintendência da PF no Rio. O inquérito só foi aberto no dia 7. Ficou a cargo da Delegacia da PF em Macaé, cujas investigações ainda não avançaram. A Petrobras também faz suas apurações. O que a PF sabe até agora, de acordo com a delegada Carla de Melo Dolinski, presidente do inquérito, é que o contêiner deixou o Porto de Santos no dia 18 de janeiro, com passagem pelo Rio. No pátio da Halliburton em Macaé o contêiner deu entrada em 1º de fevereiro.
A Halliburton é uma das mais antigas prestadoras de serviço da estatal. Atua em várias áreas, com destaque em testes de vazão e pressão em reservatórios. Também foi responsável pela construção de duas plataformas (P-43 e P-48), cujos preços e prazos estouraram. O caso terminou numa corte arbitral. Nos EUA, a Halliburton teve como presidente Dick Cheney, o atual vice-presidente do país, e teve forte atuação no Iraque. “Só sei dizer que o contêiner saiu de Santos em 18 de janeiro e no dia 1º de fevereiro foi encontrado violado. Saiu de Santos, passou pelo Rio e veio para cá (Macaé). Não sei em que momento esse contêiner foi furtado”, disse a delegada.
Logo na chegada, os funcionários encarregados do transporte notaram que o lacre do contêiner tinha marcas de violação. A Petrobras foi chamada. Realizou uma vistoria e constatou que os laptops e o disco rígido tinham sumido. A Polícia Federal foi avisada em seguida. Em nota, a Petrobras evitou referências à suspeita de que o furto foi cometido por pessoas interessadas em saber mais sobre os campos de petróleo do litoral brasileiro. A estatal informou apenas, no documento, que “houve um furto de equipamentos e materiais que continham informações importantes para a companhia, em instalações de empresa que presta serviços especializados”.
A estatal acrescentou na nota possuir cópias da íntegra dos dados furtados. Mas não revelou qual é o conteúdo das informações nem sobre quais áreas se referem. Procurada pela reportagem no Rio, a Halliburton informou que por enquanto não se pronunciará sobre o desaparecimento do material e que recebeu a orientação da Petrobras para que todas as questões a respeito do tema fossem encaminhadas à estatal. (Folhapress)
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Relatório pode valer mais de US$100 mil
RIO - A espionagem industrial na área de petróleo e gás é muito comum e um relatório com esse tipo de informações pode valer mais de US$100 mil. Isso é o que diz o geólogo Giuseppe Bacoccoli, que trabalhou 24 anos na Petrobras e atualmente é professor e consultor da área de petróleo e gás. “ A espionagem neste setor é muito comum. Nos Estados Unidos, tem até um nome para isso: scouting”, afirma Bacoccoli.
O geólogo conta que na própria Petrobras já houve demissões de funcionários por causa de casos de venda de informações. Ele avalia que as informações da descoberta são importantes para a exploração em áreas próximas ou atém mesmo em outras regiões.” É importante conhecer o modelo geológico que formou aquelas reservas. Isso pode ser usado para a exploração em qualquer lugar. Além disso, as áreas próximas a Tupi podem voltar a ser licitadas pela ANP um dia”, explica Bacoccoli. Na avaliação de Bacoccoli, com as novas descobertas de petróleo e gás da Petrobras, os campos de Tupi e Júpiter, as petroleiras de todo o mundo estão de olho nessas informações. Isso aumenta o interesse de espionagem na companhia. (AG)
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Empresa rejeita pedido boliviano
RIO DE JANEIRO - A Petrobras rejeitou ontem o pedido do governo da Bolívia para reduzir o consumo de gás importado do país vizinho com o objetivo de deslocar parte do produto para suprir a Argentina. O recado foi dado durante reunião da cúpula da estatal brasileira com o vice-presidente boliviano, Álvaro Garcia Linera, e do ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas. “Informamos ao vice-presidente da Bolívia a impossibilidade de reduzir a demanda de 30 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural previsto no contrato de compra firmado com a estatal boliviana, mais o volume de gás necessário à operação do sistema.” Anteontem, Linera esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pediu a ele uma “redução voluntária” no consumo brasileiro a fim de que a Argentina tivesse gás no próximo Inverno – o insumo é usado no aquecimento. A questão seria discutida pelos presidentes Lula, Evo Morales (Bolívia) e Cristina Kirchner (Argentina). Para Linera, não seria uma quebra de contrato com a Petrobras, mas sim uma forma de “equilibrar” o suposto excesso de gás destinado ao Brasil e a escassez que afeta à Argentina.
A proposta da Bolívia era fornecer 27 milhões a 29 milhões de metros cúbicos diários de gás-média histórica de consumo. O contrato, segundo Linera, prevê 32 milhões de metros cúbicos/dia – a Petrobras diz que são 30 milhões. A sobra seria descolada para a Argentina. “O volume de consumo médio histórico que o Brasil usa do gás boliviano está absolutamente garantido e não está em debate. O que está em debate são volumes novos de gás, além dos volumes médios históricos”, disse o vice-presidente.
Caso fosse confirmada, a redução prejudicaria indústrias brasileiras, segundo grandes consumidores de gás natural. A Abividro (Associação das Indústrias Automáticas de Vidro) classificou a idéia de absurda e disse que o Brasil não pode resolver os problemas argentinos. “Sou brasileiro, fizemos um contrato e temos direito de receber esse gás. Se houver redução da oferta, vai fazer falta”, afirmou o superintendente Lucien Belmonte. Linera reclamou ainda da falta de investimentos na Bolívia, que inviabilizam o aumento da produção de gás. Hoje, a Petrobras disse “foram discutidas as condições para novos investimentos da companhia na Bolívia”. Citou, entre eles, os destinados aos campos de San Alberto e San Antonio, onde a estatal já produz, e no de Ingre.
Linera e sua comitiva estiveram reunidos com a direção do BNDES. Ao presidente do banco, Luciano Coutinho, e à sua equipe apresentaram projeto de construção de um complexo de duas estradas que ligará as regiões do altiplano (departamento de La Paz) à amazônia boliviana (Beni e Pando). A Bolívia quer que o BNDES financie o projeto, orçado em US$431 mi-lhões. O banco estuda a proposta, mas só pode apoiá-la se uma construtora brasileira ganhar a licitação. (Folhapress)
www.correiodabahia.com.br/poder/noticia.asp?codigo=147664
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