Catalina Guerrero Paris, 27 jul (EFE).- O ex-primeiro-ministro francês Dominique de Villepin foi acusado hoje por "cumplicidade em denúncia caluniosa" devido a uma suposta trama política contra o atual presidente, Nicolas Sarkozy.
"Em nenhum momento pedi para investigar personalidades políticas, nem participei de qualquer manobra política", disse Villepin a dezenas de jornalistas na porta da seção financeira do Palácio da Justiça de Paris.
Villepin ficou apenas 50 minutos falando aos juízes de instrução do chamado "caso Clearstream", bem menos que as 17 horas de duração de seu primeiro comparecimento perante os magistrados Jean-Marie d'Huy e Henri Pons, em dezembro de 2006.
Na primeira vez, o ex-primeiro-ministro compareceu como simples testemunha e respondeu todas as perguntas. No entanto, hoje ele foi na qualidade de "testemunha assistida", juntamente com dois advogados.
O político pediu e obteve dos juízes um adiamento para estudar o volumoso processo, que acumulou 26 tomos em seus três anos de existência.
O ex-premier, acusado ainda por receptação de roubo e abuso de confiança, além de conivência com o uso de documentos falsificados, tornou-se o primeiro político processado no caso.
A trama supostamente teria tentado impedir a chegada de Sarkozy ao Palácio do Eliseu, o que dá ao processo um status de "assunto de Estado".
O ex-chefe do Executivo francês disse hoje que quando começou a investigar as listas da Clearstream, em 2004, fez "exclusivamente como dever de sua função de ministro" de Assuntos Exteriores e depois do Interior, para "enfrentar ameaças internacionais" que poderiam atingir "interesses econômicos" franceses.
A listagem de contas correntes de políticos e industriais franceses no exterior, que depois ficou provado que tinha sido falsificada, levantou suspeitas de casos de corrupção relativos à venda de seis fragatas francesas a Taiwan em 1991.
Com feições sérias, Villepin concluiu sua breve declaração afirmando que as acusações são dolorosas para ele e para sua família.
"Lutarei para que durante o processo a verdade possa, finalmente, aparecer. Responderei naturalmente todas as questões que me forem colocadas", ressaltou.
Villepin foi embora em uma limusine preta, acompanhado de seus advogados, Olivier d'Antin e Luc Brossollet.
D'Antin afirmou que o ex-premier decidirá mais tarde se contestará ou não a competência dos juízes D'Huy e Pons, assim que tiver estudado todas as provas e acusações contra ele.
Apenas a Corte de Justiça da República, uma jurisdição especial, está apta a investigar e julgar ex-ministros por atos cometidos no exercício de suas funções.
Os juízes D'Huy e Pons suspeitam que Villepin possa ter participado em 2004 de uma trama para desacreditar Sarkozy, que então não escondia o desejo de suceder Jacques Chirac no Palácio do Eliseu, como acabou acontecendo.
O suposto envolvimento de Villepin no caso se baseia nas notas apreendidas com o general Philippe Rondot - a quem o ex-chefe de Governo tinha encarregado uma investigação confidencial sobre a listagem - e nas declarações do ex-presidente do grupo EADS Jean-Louis Gergorin, um dos cinco acusados.
Na semana passada, Gergorin disse aos juízes que foi Villepin que o pressionou para entregar a listagem da Clearstream ao juiz que investigava as comissões ilegais pagas na venda das fragatas por "instrução" de Chirac, cujo nome apareceu por repetidas vezes no curso da investigação.
Apesar de tanto Gergorin quanto Rondot terem citado Villepin em suas declarações, ambos afirmaram perante os juízes que o ex-primeiro-ministro acreditou na veracidade das listas da Clearstream.
A investigação se volta agora para o analista de sistemas Imad Lahoud, acusado de ser o suposto autor das falsificações, a fim de tentar saber quem as encarregou e com que fins.
EFE cat ev/dgr
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