sábado, 29 de setembro de 2007

Ucrânia realiza eleições legislativas em meio à crise

KIEV (AFP) — Trinta e sete milhões de ucranianos vão às urnas neste domingo para eleger um novo Parlamento, na esperança de pôr fim a uma espiral de crise política nesta jovem democracia do antigo bloco soviético, que anunciou uma aproximação da União Européia (UE).






Em um dia em que a propaganda política está proibida, a imprensa do país pediu neste sábado que os ucranianos abandonem sua aparente apatia e apoiem no domingo uma das opções políticas.







Simpatizantes do candidato Viktor Yanukovich, líder do partido das Regiões, pró-russo, se reúnem na praça da Independência, em Kiev





"É preciso refletir uma última vez e eleger. É melhor não desistir desse direito constitucional. Somos nós que vivemos nesse país", afirma o jornal Den em sua primeira página.








A Ucrânia, um dos maiores países da Europa com seus 47 milhões de habitantes, no entanto, não tem a garantia de poder retomar a estabilidade depois de uma série de crises que tem debilitado o novo presidente, Viktor Yushenko, herói da Revolução Laranja.








As eleições legislativas são as segundas a serem realizadas em um ano e meio nesta antiga república soviética. Elas acontecem sob sinal de enfrentamento entre o presidente e seu arquiinimigo, o primeiro-ministro pró-russo, Vuktor Yanukuvich, que culminaram com a dissolução do parlamento.








A ruptura do parlamento que tinha chegado ao poder pela Revolução Laranja em 2004 e a incapacidade de Yushenko para promover as reformas prometidas decepcionaram os ucranianos e fizeram sua popularidade despencar.








Agora, a coalizão presidencial Nossa Ucrânia-Autodefesa Popular só conta com 13% das intenções de voto, muito atrás do partido das Regiões de Viktor Yanukovich, que goza de 33% a 37% das intenções de voto, segundo uma recente pesquisa do Instituto Internacional de Sociologia.







Viktor Yanukovich, que foi banido pela Revolução Laranja depois de ser constatada fraude eleitoral em seu favor durante a eleição presidencial de 2004, voltou com força à cena política depois das legislativas de março de 2006, ganhas por seu partido.






Desde então, a presença dos dois Viktor nas rédeas do país esteve marcada por uma série de desentendimentos, que acabaram desesperando tanto os ucranianos como os ocidentais.






"É importante voltar a estabilidade para que a Ucrânia possa concentrar sua energia nas reformas", advertiu em setembro o presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso.






Por outro lado, o bloco de Yulia Timoshenko que, apesar de ter sido uma figura-chave na Revolução Laranja, foi destituída pelo presidente de seu posto de primeira-ministra em 2005, poderia obter entre 16,8% e 23% dos votos.






Com os resultados se anunciando apertados, tem se questionado a governabilidade da maioria da próxima administração.







"Veremos se as eleições permitem sair rapidamente da crise política ou se o conflito ficará ainda mais forte", avaliava o analista Volodimir Fesenko, do centro de estudos políticos Penta, de Kiev.






"Se formam rapidamente uma coalizão e um novo governo, o país sairá gradualmente" da crise, considera o especialista.







Mas a hostilidade entre os três protagonistas prevê um futuro agitado. "Haverá um novo período de instabilidade", prognostica o diretor do instituto de Estudos Políticos de Kiev, Mikhailo Pogrebinsky.







O partido derrotado poderia não reconhecer o resultado das eleições e organizar manifestações, ou inclusive tentar invalidar o novo parlamento diante dos tribunais, afirmou Progrebinsky.







Oficialmente, a coalizão presidencial e o bloco de Yulia Timoshenko se comprometeram a firmar uma aliança se juntos obtiverem mais votos que seus adversários.







Em caso de vitória, o presidente poderá aproveitar para "acelerar a adesão de Ucrânia à Otan", segundo Pogrebinsky.








No entanto, também não se pode excluir completamente uma aliança entre os dois Viktor. Neste caso, a política exterior da Ucrânia teria que encontrar o equilíbrio entre a Europa, a Otan e a Rússia, acreditam os analistas.






Por outro lado, espera-se que as eleições não tenham impacto direto na economia nacional, cujos indicadores são bons, apesar da crise política.






Nos oito primeiros meses do ano, o PIB ucraniano aumentou em 7,5%.






"Em qualquer dos casos, haverá reformas com traços de liberalismo. Os empresários que estão atrás das três forças precisam disso", destacou Fesenko.




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