O senador José Sarney (PMDB-AP) declarou, ontem, em entrevista tão logo desembarcou no Aeroporto Internacional Augusto Severo, em Natal, que o epidósio envolvendo o presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), está superado. Na opinião do senador, a Casa deve, agora, administrar ‘‘outros problemas políticos’’ decorrentes do fato.
Ana Amaral/DN
Sarney, apontado pela imprensa nacional, como o principal articulador do resultado favorável a Renan Calheiros, negou que tenha cumprido esse papel. ‘‘Apenas votei a favor do senador Renan Calheiros por entender que não havia provas concretas de que ele tinha recebido dinheiro da empreiteira Mendes Júnior’’, disse. A seguir, a entrevista na íntegra.
Diário de Natal - Como o senhor avalia a absolvição do senador Renan Calheiros?
José Sarney - A minha visita a Natal é uma visita exclusivamente para a literatura. De maneira que eu não desejava tratar de assuntos políticos. Eu acho que esse assunto do senador Renan Calheiros é um episódio ultrapassado. E, agora, nós temos que viver outros problemas políticos, naturalmente decorrentes do fato.
O que o senhor acha das outras representações contra o senador Renan Calheiros que ainda estão no Conselho de Ética?
Eu acho que tem alguns assuntos que ficaram ainda para se encontrar solução que o Senado vai ter que conviver com eles.
O senhor acha que há possibilidade de o senador Renan Calheiros abdicar da presidência do Senado para pôr um fim na crise e para que as votações ocorram normalmente?
Olha, isso é uma decisão pessoal. Mas eu não vejo nenhum indício nesse sentido da parte dele.
O senhor acha que ele deveria se afastar ou pedir licença do cargo?
Ao meu ver, diante do estresse a que ele foi submetido durante esse período todo, era muito bom que ele fosse tirar uma férias uns dias, até para ele descansar com a família, sem que isso fosse uma manifestação de caráter político.
Senador, como o senhor avalia a repercussão que a absolvição do senador Renan Calheiros teve perante a opinião pública, que esperava, na sua maioria, que ele fosse cassado?
Olha, tem duas visões sempre. É uma visão que é da opinião pública e uma visão interna do Senado que tem que lidar com provas, com processos, que tem que decidir sobre coisas concretas, não é uma visão política. De certo modo, há uma certa contradição. Eu sempre fui contra que os senadores e deputados fossem julgados por eles mesmos. Eles deveriam ser julgados por um tribunal como ocorre em muitos lugares do mundo. Porque isso oferece essa maneira de contradição.
A oposição ainda aposta numa mudança desse quadro na apreciação de uma representação que foi apresentada pelo Democratas e pelo PSDB no que diz respeito à aquisição de rádios em Alagoas por supostos laranjas do senador Renan Calheiros. O senhor acredita que o senador Renan Calheiros será absolvido em todas as outras representações?
Eu não sou do Conselho de Ética. De maneira que esse assunto está submetido ao Conselho de Ética. Como senador, vamos todos esperar que o Conselho de Ética encaminhe esse assunto. Eu não conheço o teor e não posso condenar ninguém sem conhecer.
O senhor foi considerado um dos principais articuladores para esse resultado no Senado. O senhor se considera assim?
Eu sou considerado, muitas vezes, coisas que jamais eu fui. Eu não sou nem fui um dos principais articuladores. Apenas o meu voto foi a favor do senador Renan Calheiros, uma vez que eu não encontrei provas concretas dentro do processo de que ele tinha recebido recursos da empreiteira Mendes Júnior.
Caso o presidente Renan Calheiros se afaste da presidência do Senado, existe a possibilidade do sucessor ser o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB)?
Eu não posso olhar em bola de cristal. Petrônio Portela dizia: a pior coisa em política é a gente opinar sobre hipóteses.
Houve alguma conversa do senhor com os prefeitos Agnelo Alves (sem partido) e Carlos Eduardo Alves (PSB) sobre o comando do PV aqui no Rio Grande do Norte?
Eu não tenho conhecimento. Eu não conversei sobre isso.
É verdade que o senhor acalenta o desejo de ser candidato a presidente da República em 2010?
Quem tem 77 anos, como eu, só tem passado, não tem mais futuro.
Flávia Urbano
Da equipe do Diário de Natal
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