quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Ata do Copom indica interrupção do processo de queda de juros


Pela primeira vez o Copom manifestou de forma mais explícita a preocupação com o risco para a inflação


Agência Estado


Recheada de alertas sobre riscos que o aquecimento da demanda traz para a inflação, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada hoje pelo Banco Central, deixou entre boa parte dos analistas a impressão de que o BC prepara o terreno para interromper o processo de queda dos juros. A revelação de que os integrantes do Copom cogitaram manter a taxa Selic inalterada também alimentou a expectativa de que o BC vai dar uma parada no ciclo de alívio monetário, iniciado há exatos dois anos, que permitiu a redução da taxa de 19,75% para os atuais 11,25% ao ano.


A dúvida entre os analistas é saber se os indicadores econômicos que serão divulgados até a próxima reunião, em outubro, serão capazes de mudar essa expectativa. Alguns apostam que, se os números vierem favoráveis, haveria chance de mais um corte de 0 25 ponto porcentual da Selic no mês que vem. Para Carlos Thadeu Filho, economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a decisão sobre juros que será tomada na próxima semana pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, será fundamental para definir a trajetória dos juros brasileiros daqui para frente.


"Se o Fed cortar os juros em 0,25 ponto porcentual e sinalizar novos cortes, os mercados vão se acalmar e acabarão forçando o Copom a manter a trajetória de queda dos juros", disse ele. Thadeu Filho também destacou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, divulgado na quarta-feira, que ficou pouco abaixo do esperado e, na sua avaliação, pode mudar as expectativas para os juros.


Na ata, pela primeira vez o Copom manifestou de forma mais explícita a preocupação com o risco para a inflação trazido pelo ritmo mais acelerado da economia e da demanda interna aquecida. Esse aquecimento, alerta o Copom, traz "riscos não desprezíveis" de elevação dos preços dos produtos e serviços. "Essa preocupação com a inflação de demanda está presente em quase todos os parágrafos da ata", constatou o economista Sergio Vale, da MB Associados.


O documento chama a atenção ainda para o fato de que o aumento de investimentos, embora robusto, não tem sido suficiente para evitar que o uso da capacidade instalada (produção) da indústria permaneça em níveis historicamente elevados. "O aquecimento da demanda pode ensejar aumento no repasse de pressões sobre preços no atacado para os preços ao consumidor", alertam os diretores do BC.


A preocupação com o risco de um superaquecimento da economia já tinha sido manifestada, na terça-feira passada, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silvae, durante visita à Suécia. Contrariando avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o Copom afirma na ata que as pressões inflacionárias, embora localizadas no preço dos alimentos, podem representar um risco para a trajetória da inflação.


A esse cenário desfavorável, soma-se o alerta de que a contribuição do setor externo para manter a inflação baixa, com o dólar mais barato, já não é mais tão efetiva. Além disso, a ata adverte que parcela importante do efeito dos últimos cortes da taxa Selic ainda não produziu impacto no ritmo de atividade. O mesmo alerta foi feito em relação ao aumento dos gastos públicos.


Para agravar o quadro, o Copom informou que a projeção de inflação para 2007 aumentou "marcadamente", embora permaneça abaixo do centro da meta de 4,5%. A projeção para 2008, também ficou "sensivelmente" maior. Para Sérgio Vale, a piora das expectativas de inflação deixará o Copom ainda mais cauteloso na condução de política de juros. "O BC tem de agir para garantir o cumprimento da meta de 2009", disse Vale, que aposta na interrupção do processo de queda dos juros já em outubro.

Nenhum comentário: