sábado, 2 de fevereiro de 2008

Dirceu sabia dos empréstimos ao PT, diz Valério

À Justiça, publicitário afirma que não apenas Delúbio tinha conhecimento do dinheiro levantado em bancos




Leonardo Werner





Em depoimento ontem à Justiça Federal, o empresário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão, disse que a cúpula do PT e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu sabiam dos empréstimos que sua agência de publicidade SMPB tomou em favor do partido nos Bancos Rural e BMG. Os valores chegam a R$ 55 milhões.




Valério foi ouvido pelo juiz federal Alexandre Buck Medrado Sampaio em Belo Horizonte, como réu no processo que investiga o escândalo do mensalão. Ele disse nunca ter tratado do assunto com Dirceu. A informação de que o ex-ministro sabia dos repasses teria sido dada pelo ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. A afirmação de que a cúpula do PT tinha conhecimento dos empréstimos foi atribuída ao ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. Ele teria confirmado isso ao publicitário por “reiteradas vezes”.




Os empréstimos, segundo Valério, foram feitos mediante apresentação de cartas assinadas por Delúbio às instituições financeiras. Nesses documentos, o PT se comprometia a pagar a dívida, dando como garantia a contribuição de filiados.




O empresário disse que os valores eram destinados sempre a pessoas indicadas por Delúbio. E negou ter sido informado de que os repasses tivessem como fim a “compra de vontade de parlamentares”. “A única informação é de que o dinheiro seria destinado à quitação de dívidas de campanhas de partidos e diretórios nas eleições de 2002 ou na pré-campanha de prefeitos para 2004”, declarou.




Indagado se a SMPB era entidade financeira, para intermediar empréstimos, Valério respondeu que não, mas disse não considerar isso como crime. Ele garantiu que a SMPB não teve nenhum ganho, seja em cobrança de juros, em comissão ou outro encargo. Segundo ele, o único interesse da agência era fazer campanhas publicitárias na área política - especialmente em eleições para prefeitos, vereadores e deputados.




Rodrigo Dall’Acqua, advogado de Dirceu, afirmou que seu cliente sabia dos empréstimos feito pelo PT por meio da agência. Mas negou que o ex-ministro tivesse conhecimento de repasses a parlamentares. “Ressaltamos que Valério disse neste interrogatório que os empréstimos eram destinados ao PT. Portanto não interessava a ele se Dirceu sabia ou não. Ele fez uma distinção entre o governo e o PT. E os empréstimos foram para o partido, não para políticos”, argumentou.




Dirceu já negou ter conhecimento de qualquer um desses fatos, alegando desconhecer a vida financeira do PT.




Marcelo Leonardo, advogado de Valério, classificou o depoimento, que começou às 14 horas e terminou por volta das 21 horas, como “normal”, vinculado ao que havia sido dito pelo publicitário em ocasiões anteriores. Ao longo do interrogatório, Marcos Valério negou todas as acusações que lhe foram feitas. Também se recusou a responder a perguntas de representantes do Ministério Público e de advogados de outros réus do processo. Ele saiu sem falar com a imprensa.



http://txt.estado.com.br/editorias/2008/02/02/pol-1.93.11.20080202.10.1.xml

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