quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Desmatamento provoca divergências no governo

Valor Online




BRASÍLIA - Unânimes em afirmar que o governo não pode permitir que cresça o desmatamento da Amazônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, manifestaram ontem opiniões antagônicas sobre as causas e dimensão do problema. Marina, após sobrevoar as dez regiões mais devastadas na região amazônica, voltou a acusar madeireiros, pecuaristas e produtores de soja pela degradação da floresta. Lula afirmou que não se pode apontar culpados sem investigação mais cuidadosa, e chegou a dizer que está disposto a brigar com ONGs que acusam o agronegócio pelo desmatamento.




Lula minimizou o anúncio feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que, com base em fotografias de satélite, anunciou um desmatamento recorde na Amazônia, de 3,2 mil metros quadrados no segundo semestre de 2007, pouco mais de 1,9 mil apenas em novembro e dezembro. O Estado de maior devastação foi o Mato Grosso, cujo governador, Blairo Maggi, é um dos maiores produtores mundiais de soja. Lula, ontem citou Maggi, um governador que tem sido parceiro do governo, e informou que ordenou a Marina Silva que se reúna para discutir o tema com os governadores e prefeitos da região afetada.




O governador (Maggi) está numa discordância enorme., não concorda que foi a soja , comentou Lula. Temos de ir em cada Estado que teve o problema, fazer levantamento, mapear, fotografar, detectar quem é o dono da terra , disse. Se tiver alguém que fez queimada ilegal, eu defendo que esse cidadão sofra processo para perder sua propriedade, as pessoas têm de aprender que o país tem leis, tem regras. Ele disse não ser verdade que a devastação é provocada pela pecuária e a agricultura. Se pegarem os dados da agricultura, vão perceber que para a produção atual, para criação de gado, não precisa derrubar um pé de árvore.




Enfático, sem atentar para a quase impossibilidade de verificar titularidade das terras ocupadas na região amazônica, Lula lembrou sua participação na reunião ministerial de emergência que tratou do desmatamento, e adotou o argumento de Maggi de que só a identificação dos donos das terras afetadas pelo desmatamento poderá revelar culpados pelos danos. Eu disse na reunião: a gente não pode culpar soja, feijão, gado, sem terra; não pode culpar ninguém antes de investigar o que aconteceu.




Marina voltou a culpar os pecuaristas, produtores de soja e madeireiros pelos danos ambientais na região, após o vôo sobre a região desmatada, em que foi acompanhada pelos ministros do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, da Justiça, Tarso Genro, e pelo ministro interino da Defesa, Enzo Martins, além do secretário executivo do Ministério da Agricultura, Silas Ribeiro. Não estou aqui para dizer que o culpado é beltrano ou fulano, mas vejam depois quem será multado por essas atividades , disse. Ela reafirmou existirem indícios concretos e desmatamentos consolidados na região e defendeu ação rápida para evitar que cresça o desmatamento até agosto, quando os dados finais serão anunciados.




Mais cedo, Lula havia minimizado os resultados do Inpe, com o argumento de que se referiam a comparação entre fotografias de satélite tomadas no último trimestre de 2006 e no último trimestre de 2007. Alardeou-se que estava crescendo o desmatamento , disse Lula, contando que teve um não como resposta quando perguntou ao presidente do Inpe se os dados mostravam que haverá maior desmatamento no fim do ano.




Na verdade queriam alertar que a gente não pode se descuidar de controlar a Amazônia , comentou. Detectaram que tem um tumorzinho, e em vez de fazer biópsia para saber como tratar, sai dizendo que estava com câncer , comparou. Se for constatado o aumento do desmatamento, o país tem todo o tempo do mundo para revertê-lo, argumentou. Se for o caso, vamos montar postos da Polícia Federal lá, tudo isso é controlável , disse o presidente.




(Sergio Leo e Paulo de Tarso Lyra | Valor Econômico)



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