quinta-feira, 5 de julho de 2007

Jornalista libertado em Gaza diz que sequestro foi "assustador"

Por Nidal Al Mughrabi








GAZA (Reuters) - Alan Johnston, jornalista da BBC que era mantido como refém na Faixa de Gaza, foi libertado na quarta-feira, graças a um acordo entre o grupo islâmico Hamas, que governa a região, e a facção responsável pelo sequestro, ligada a um clã e inspirada na Al Qaeda.








"É simplesmente a coisa mais fantástica estar livre. Foi uma experiência assustadora", disse o jornalista à própria BBC na casa de Ismail Haniyeh, líder local do Hamas, depois de passar 114 dias como refém do obscuro Exército do Islã.








Johnston disse ter adoecido algumas vezes e passado 24 horas acorrentado, mas que só apanhou "um pouco" na última meia hora da captura, já no carro que o levaria para a liberdade, no meio da noite. Ele contou que passou três meses sem poder ver o sol, e que na maior parte do tempo ficava em "confinamento solitário".








Haniyeh, que era o primeiro-ministro no governo de coalizão palestino desfeito no mês passado, disse que o resultado "confirma (que o Hamas) leva a sério a imposição da segurança e da estabilidade".








Khaled Meshaal, o líder máximo do Hamas, que vive no exílio, disse à Reuters que a libertação do britânico contrasta com a "anarquia e o caos" que predominavam na Faixa de Gaza antes da expulsão das forças do grupo laico Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, cujo poder agora se restringe à Cisjordânia.








Já Yasser Abed Rabbo, assessor de Abbas, comparou a situação a "um filme em que os bandidos de Gaza brigam e um deles diz ser honesto e bravo, e o outro é o cara malvado".








O próprio Abbas, porém, comemorou o fim do sequestro, que disse prejudicar todos os palestinos, e propôs a dissolução de todos os grupos armados.








Johnston, único correspondente ocidental radicado na Faixa de Gaza, afirmou ter sentido que seus sequestradores cederam à pressão depois que o Hamas derrotou a Fatah, há três semanas. "Quando o Hamas assumiu o controle, aquilo mudou a atmosfera completamente", observou.
Ele descreveu o Exército do Islã como "um pequeno grupo jihadista", mais interessado em fazer mal à Grã-Bretanha do que no conflito palestino com Israel.








Autoridades dizem que o grupo tem como principal base de apoio o clã Doghmush, cujo reduto, na Cidade de Gaza, foi isolado por homens armados do Hamas durante as negociações.








Mediadores disseram que a libertação foi selada por uma "fatwa" (decreto religioso) exigindo o fim do sequestro. Eles afirmaram ainda que não houve pagamento de resgate ou qualquer pré-condição. Antes, o grupo exigira que a Grã-Bretanha e outros países libertassem prisioneiros muçulmanos.








"Sonhei muitas vezes que estava livre e sempre acordava naquela sala. Agora realmente acabou, e é indescritivelmente bom estar fora", disse Johnston, um escocês que completou 45 anos no cativeiro, período que descreveu durante entrevista coletiva como o pior da sua vida, "como estar enterrado vivo".








Ele contou que temeu por sua vida imediatamente depois do sequestro e quando foi filmado usando trajes explosivos, num vídeo em que os sequestradores alertavam as forças do Hamas a não tentarem libertá-lo.








Diplomatas britânicos levaram Johnston de carro para o consulado em Jerusalém. A Grã-Bretanha, como outras potências, reconhecem apenas o governo mantido por Abbas na Cisjordânia, e não o domínio do Hamas em Gaza. Mas o chanceler britânico, David Miliband, reconheceu o "papel crucial" de Haniyeh e de outros líderes do Hamas.








Johnston, que acompanhava o noticiário por rádio, agradeceu as pessoas de todo o mundo e seus colegas pelo apoio. Em nota, a BBC se disse "extremamente aliviada". Parentes do repórter afirmaram estar "transbordando de alegria" depois de "viver um pesadelo".








(Com reportagem de Julian Rake na Passagem de Erez, Wafa Amr e Mohammed Assadi em Ramallah, Alastair Macdonald e Avida Landau em Jerusalém e Shams Odeh e Suhaib Salem em Gaza)

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