LUÍS KAWAGUTI
KLEBER TOMAZ
da Folha de S.Paulo
Os advogados de Alexandre Nardoni, 29, e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, 24, pai e madrasta de Isabella Oliveira Nardoni, 5, afirmaram ontem que vão provar a inocência do casal no inquérito que apura a morte da menina.
No último sábado, Isabella foi achada deitada no jardim do prédio onde seu pai mora, no Carandiru, na zona norte de São Paulo. A menina era filha dele com Ana Carolina Cunha de Oliveira, 23, e passava o fim de semana com o pai. Anna Carolina era sua madrasta --Nardoni tem dois filhos com ela.
Quando os bombeiros chegaram ao local, Isabella estava com parada cardiorrespiratória. Por 34 minutos a equipe tentou reanimar seu coração, mas não conseguiu. Em depoimento à polícia, o pai disse suspeitar que a filha tenha sido atirada do sexto andar do prédio por algum desafeto seu.
"A família está muito abalada, dada à repercussão desse caso", disse o advogado do casal, Ricardo Martins de São José Filho que trabalha com o defensor Jairo Neves de Souza.
"Eles são totalmente, absolutamente, inocentes", disse São José Filho. A defesa do pai e da madrasta de Isabella se refere ao comentário da delegada [Maria José Figueiredo, do 9º Distrito Policial] que chamou Nardoni de "assassino" após ele prestar depoimento no domingo, como revelou a Folha. O delegado Calixto Calil Filho, titular do 9º DP, disse que a declaração dela será apurada.
O advogado também afirmou que a relação entre Nardoni e Anna sempre foi tranqüila. "Não existe informação sobre brigas. A relação deles é normal", disse São José Filho. O avô materno e a mãe relataram à Folha anteontem que o pai, a filha e a madrasta tinham uma boa relação.A polícia, porém, diz que quatro testemunhas declararam que houve discussão no apartamento.
Um policial que não quis se identificar disse que duas testemunhas (que moram no prédio vizinho ao do casal) afirmaram ontem, em depoimento, ter ouvido discussões e ofensas entre o casal, cerca de 15 minutos antes de Isabella ter sido encontrada no gramado.
Investigação
O delegado Calixto Calil Filho, do 9º DP, disse que vai apurar se a madrasta subiu com o marido ao apartamento. Em sua versão inicial dada à polícia, Nardoni disse ter chegado de carro ao prédio. Como os três filhos dormiam, levou Isabella sozinho ao apartamento e voltou para ajudar a mulher a trazer os outros dois filhos. Ao retornar ao apartamento, constatou que a menina não estava mais lá.
À polícia, Nardoni dissera que a menina teria sido jogada por um buraco feito numa tela de proteção no quarto dos meninos. Manchas de sangue foram encontradas no corredor do apartamento, no quarto dos filhos e na grade.
O delegado Calil Filho, --que já afirmara anteontem que o pai e madrasta são "candidatos a suspeitos"--, também disse ontem que duas outras testemunhas, um casal de advogados que mora no 1º andar, disseram ter ouvido gritos de "pára, pai" no sexto andar. Os gritos dariam a entender que a filha de Nardoni era agredida.
A defesa do casal alega, no entanto, que a suposta frase ouvida pelas duas testemunhas foi mal interpretada. Segundo São José Filho, a criança poderia estar sendo atacada por uma terceira pessoa e pedindo para ela parar e ao mesmo tempo gritando por socorro ao pai. "A advogada [testemunha] disse que escutou aos berros a frase "pára, pai" no horário em que a menina morreu", disse o delegado, que pedirá uma nova perícia no apartamento.
A mãe da menina deve depor hoje. Em sua página na internet, escreve "filha maravilhosa da minha vida, você será eterna. Lutarei pra conquistar tudo nessa vida em nosso nome".
Laudos do IML apontando a causa da morte da menina devem ficar prontos em 30 dias. A Folha revelou ontem que peritos do IML encontraram indícios de que a menina possa ter sido asfixiada e que suspeitam que ela possa nem sequer ter sido jogada do prédio.
www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u388126.shtml
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