sábado, 10 de novembro de 2007

Hugo Chávez chama Lula de ‘magnata petroleiro’

O presidente venezuelano ironiza descoberta de petróleo no Brasil e diz que vai produzir biodiesel




SANTIAGO – Ainda sob o impacto da notícia que o Brasil ampliou em 50% suas reservas de petróleo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, propôs ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um esforço conjunto para fornecer combustível mais barato aos países pobres. Em tom irônico, o presidente venezuelano fez várias referências ao anúncio feito anteontem pelo governo brasileiro sobre a existência de novos campos de petróleo, que ampliam em mais de 50% as reservas totais no país: “Lula, agora que você tem tanto petróleo, poderíamos criar a Petroamazônia”, disse o venezuelano, durante a cerimônia de abertura da 17ª Cúpula Ibero-americana. Propôs, ainda, que os dois países forneçam petróleo à Argentina em troca de tratores e vacas prenhes.


Em seu longo discurso, mencionou cinco vezes a nova condição do Brasil e chamou Lula de “magnata petroleiro”. Disse também que agora o Brasil poderia ingressar na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Lula não pôde responder a Chávez em público, pois a série de discursos foi interrompida para não atrasar a programação, que incluiu pose para uma foto oficial, o plantio de árvores nativas chilenas e almoço.


À tarde, os debates foram fechados à imprensa. A proposta de vender petróleo abaixo do preço de mercado, porém, foi rechaçada pelo assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia. “A empresa (Petrobras) tem de ter sua autonomia de operação”, disse. “Essa questão não está em discussão”. Sobre a criação da Petroamazônia, ele comentou que o petróleo recém-descoberto no Brasil não está na Amazônia. Há discussões para se formar a “Petrosur” mas, segundo Garcia, não se trata de unificar as petrolíferas da região.

As receitas com a exportação de petróleo têm sido o principal instrumento de Hugo Chávez para expandir sua influência sobre os países da América do Sul. As novas reservas brasileiras, em teoria, dão ao Brasil um novo peso na disputa pela liderança regional. Chávez disse a Lula que começará a produzir biocombustíveis, já que o Brasil está produzindo tanto petróleo. Também teria se oferecido para propor o ingresso do país na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), na reunião que se realiza semana que vem. O ingresso na Opep, disse Garcia, é “uma bobagem.


Em seu discurso na abertura da reunião de cúpula, Chávez criticou o tratamento dado pela mídia aos conflitos entre manifestantes contra e a favor de seu governo: “é tal qual o golpe de 2002”. Ele acusou a americana CNN e as emissoras privadas venezuelanas de apoiar a tentativa de retirá-lo da presidência de seu país e propôs aos demais chefes de estado ibero-americanos uma discussão sobre o papel dos meios de comunicação. O venezuelano classificou de “fascistas” os empresários que, na véspera, haviam aprovado um documento alertando para o aumento da insegurança jurídica e institucional na região e suas conseqüências danosas aos investimentos. Preocupa os empresários a disposição de Chávez de modificar o conceito de propriedade, na reforma constitucional que deverá ir a referendo público em dezembro.


O ministro do Exterior espanhol, Miguel Ángel Moratinos, queixou-se ontem ao seu colega venezuelano, Nicolás Maduro, sobre o “mal-estar” causado na Espanha pelas críticas do presidente Hugo Chávez contra o ex-primeiro-ministro José María Aznar e a confederação empresarial espanhola. Durante discurso no plenário da Cúpula Ibero-americana, Chávez chamou Aznar de “fascista” três vezes e acusou a Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE) de estar entre as entidades que apoiaram o golpe de Estado que o derrubou durante 48 horas em 2002. (AE e EFE)
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Piora o conflito entre Argentina e Uruguai


BUENOS AIRES - A crise política entre a Argentina e o Uruguai está cada vez mais grave. Segundo o chefe de gabinete da Presidência argentina, Alberto Fernández, a relação entre os dois países “ficou muito danificada” depois que o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, autorizou o funcionamento da fábrica da Botnia, sem aviso prévio. Em entrevista às rádios de Buenos Aires, Fernández qualificou de “muito pouco feliz” a decisão de Vázquez tomada paralelamente à reunião da Cúpula Ibero-americana, em Santiago, minutos depois de ter cumprimentado o presidente Néstor Kirchner e sua esposa, a presidente eleita, Cristina Fernández. “É possível voltar atrás em muitas coisas, mas de uma atitude cínica é muito difícil”, disparou Fernández, o principal porta-voz do governo Kirchner.


Segundo ele, Vázquez “não teve uma conduta digna de alguém que se diz ser irmão”. O ministro argentino reconheceu que seu governo foi surpreendido pela medida do país vizinho. “Estamos surpresos pela singular conduta do Uruguai e do próprio presidente (Vázquez) de fazer um discurso como contemporizador não só em frente ao presidente (Kirchner), mas em frente a quem promoveu o diálogo bilateral (o rei da Espanha, Juan Carlos de Borbón), para depois sair com o anúncio, na mesma cúpula, do começo das atividades da Botnia”, afirmou em tom crítico.

Fernández reconhece o direito do Uruguai de autorizar o funcionamento da planta de celulose em Fray Bentos, às margens do rio Uruguai, fronteira com a Argentina. Mas ele reclamou que a iniciativa tenha sido em plena cúpula, onde o mediador do conflito promovia reuniões de negociações sobre o assunto. “Soou pouco sincero, próximo do cinismo a conduta de abraçar o presidente (Kirchner) e ao mesmo tempo estar fazendo isso (autorizar o funcionamento)”, reclamou.


Segundo Fernández, uma hora antes do abraço entre os dois presidentes e do anúncio da autorização, estiveram reunidos os chanceleres de ambos os países e nada foi comentado. “Inclusive, acertamos que continuaríamos conversando”, afirmou Fernández completando que “agora vêm com isso de que a Botnia começa a funcionar na terça-feira que vem”. O ministro argentino também estocou: “entendo as necessidades internas de Vázquez porque é acusado pela oposição de ser pouco cuidadoso com a soberania uruguaia”. (AP)

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