quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Crise não impôs volta à Bolívia, diz Petrobras

FABIANO MAISONNAVE

da Folha de S.Paulo, em La Paz


O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse ontem que a Bolívia já tem um "marco legal" que permite avaliar novos investimentos no país, mas que uma eventual ampliação da produção de gás natural não iria "necessariamente" para o Brasil.


"Temos um marco legal hoje na Bolívia, temos um contrato de produção com a Bolívia e temos as condições legais definidas na Bolívia. Com essas condições razoáveis, é possível analisar as condições econômicas de ampliação de investimentos", disse Gabrielli, em entrevista após ter se reunido durante toda a tarde em La Paz com o ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas.


Porém, frisou que o eventual reinício dos investimentos não está diretamente ligado à demanda do mercado brasileiro. "A ampliação da produção de gás não é necessariamente para o Brasil, mas se trata da ampliação da produção na Bolívia."


Antes da reunião com Villegas, Gabrielli conversou com o vice-presidente Álvaro García Linera. O encontro com o presidente Evo Morales, previsto para ocorrer pela manhã, teve de ser cancelado por causa do atraso na chegada do vôo da comitiva brasileira.


As declarações de Gabrielli coincidem com as necessidades mais urgentes da Bolívia, que vem tendo dificuldades para abastecer o mercado interno e o contrato com a Argentina -dos 7,7 milhões de metros cúbicos por dia previstos no acordo, estão sendo enviados pouco menos de 3 milhões de metros cúbicos diários. Além disso, a Bolívia cortou o envio de gás para a termelétrica de Cuiabá, paralisada há mais de um mês.


Até agora, a produção insuficiente não afetou o contrato de compra e venda entre a Bolívia e a Petrobras, que prevê cerca de 30 milhões de metros cúbicos por dia, a maior parte consumida no Estado de São Paulo. Esse contrato é abastecido principalmente pelos campos de San Alberto e San Antonio, operados pela Petrobras.


Anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia afirmado que a Petrobras precisa investir na Bolívia para exportar "não apenas para o Brasil mas para o seu uso interno e para a Argentina".


Tanto Gabrielli quanto Villegas afirmaram que a relação entre a empresa e o país vive uma "nova fase", em alusão ao fim do período de duras negociações envolvendo três grandes temas: a assinatura de novos contratos, o aumento do preço do gás vendido ao Brasil e a venda das duas refinarias da Petrobras ao Estado boliviano.


Como já era esperado, não foi anunciado nenhum acordo. Uma nova reunião foi marcada entre os dias 26 e 30 deste mês, em Santa Cruz de la Sierra, sede da Petrobras Bolívia. A idéia é que as negociações estejam encerradas antes da visita de Estado de Lula a Morales, marcada para 12 de dezembro.


Um dos possíveis acordos é que a Petrobras assuma o megacampo de Itaú, hoje sob responsabilidade da francesa Total, mas ainda não desenvolvido. Ontem, Gabrielli e Villegas se recusaram a dar detalhes sobre as negociações.


Na noite de segunda-feira, Morales afirmou que o país precisa de "milhões e milhões" para avançar o processo de industrialização do setor de gás natural e que qualquer investimento que respeitar as normas bolivianas será "garantido".

Do Site:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u343443.shtml

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