Da AE - Brasília
Ao chegar ao Congresso na tarde desta quinta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), classificou de "esquizofrênico" o processo em curso no Conselho de Ética da Casa, que o investiga por quebra de decoro parlamentar. "Este é um processo esquizofrênico que não tem nada a ver com quebra de decoro. Ontem (quarta-feira) eu disse que não ia renunciar. Hoje, digo mais. A questão não é nem de gramática, é de princípio, não arredarei o pé", afirmou Renan a jornalistas.
O senador disse ainda que não precisa que ninguém o defenda no Conselho de Ética. "Quem me defenderá, sempre, é a verdade. Estou sendo vítima de um processo esquizofrênico." Calheiros afirmou também que é "vítima de uma crise, com ataques diários e absurdos que não têm nada a ver com decoro."
A uma pergunta sobre a versão de que estaria ameaçando denunciar outros parlamentares por suposto envolvimento em irregularidades, Renan Calheiros respondeu que não permitirá que levem o Senado a uma crise institucional. "O Senado não vai participar dessa crise a que estão tentando levá-lo. Devassaram a minha vida, a de minha família, de meus filhos, e eu expus as minhas vísceras - mas as minhas! - As dos senadores, eu não permitirei (que sejam expostas). Não vou permitir que devassem a vida dos senadores, e o Conselho não tem poderes para isso".
O Conselho apura se houve quebra de decoro de Renan no pagamento de pensão alimentícia à filha que teve fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso. Os pagamentos foram feitos por meio de um lobista da construtora Mendes Júnior e Renan tenta provar que os recursos eram seus.
Sem traição - Renan negou que esteja se sentindo traído como disseram alguns senadores que participaram de uma reunião com ele, na noite da última quarta-feira, para avaliar a situação depois que aumentaram as pressões para que se afaste da presidência do Senado. "Muito pelo contrário, as pessoas me procuram, falam da tribuna e sabem, têm convicção, de que não deixarei que levem o Senado para uma crise institucional", declarou. "Estou recebendo o conforto e o apoio que sempre esperei", disse.
O senador anunciou também - após o adiamento da decisão sobre o seu caso na última quarta-feira - que não está mais preocupado com prazos e acrescentou que já apresentou ao Conselho de Ética "as provas" para esclarecer as suspeitas que pesam contra ele. "Portanto", disse, "não tenho mais nenhuma preocupação com prazo. O prazo era para fazer as provas, não é problema meu, é do Conselho." No plenário do Senado, ao sentar-se à cadeira de presidente da Casa, a primeira coisa que Renan fez foi dizer aos senadores: "Ameaças e insinuações não fazem parte de sua personalidade."
Relatoria - O presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), está definindo uma nova relatoria, que poderá ser ocupada por um integrante da base do governo ou por uma comissão de três senadores do Conselho. O relator original do processo, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), se licenciou do cargo por razões médicas, e seu substituto, Wellington Salgado (PMDB-MG), renunciou alegando que o Conselho não tem vontade de julgar Renan pela quebra de decoro, e sim por outras razões.
Foi adiada a reunião do conselho marcada para esta quinta-feira. O encontro serviria para definir um calendário de trabalho, mas Sibá Machado alegou que não haveria sentido em tratar do processo contra Renan com a vaga da relatoria em aberto.
Lula lava as mãos - O governo lavou as mãos e não moveu uma palha para ajudar Renan no Conselho de Ética na última quarta. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para o senador e lhe desejou boa sorte, mas nada fez pelo aliado. Renan disse a Lula que enfrentava um ´calvário´, mas o avisou que não renunciaria ao cargo. Embora o Planalto avalie que a situação do senador é muito complicada, vai aguardar a evolução do episódio antes de buscar nomes para apoiar numa possível sucessão no Senado.
É conhecida a lentidão do presidente, no meio político, para tomar iniciativas desse porte. Na disputa pelo comando da Câmara - que confrontou dois aliados, também em fevereiro -, demorou mais de um mês para chamar Aldo Rebelo (PC do B-SP) e perguntar se ele aceitaria retornar ao governo e desistir da briga, em favor de Arlindo Chinaglia (PT-SP). O apelo, tardio, foi em vão.
A conversa de Lula com os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Roseana Sarney (PMDB-MA) na última terça-feira - dia da posse do filósofo Mangabeira Unger na Secretaria de Planejamento de Longo Prazo - despertou comentários de que o governo estaria atrás de substitutos para Renan. Na prática, porém, o presidente ainda não arregaçou as mangas.
Perícia - A perícia do Instituto Nacional de Criminalística (INC), da Polícia Federal, sobre os documentos que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apresentou ao Conselho de Ética desmontou sua alegação de que teve renda de R$ 1,9 milhão nos últimos 4 anos com venda de gado. Mostra, por exemplo, que não foram apresentadas notas fiscais de venda de 2004, em que teria recebido R$ 236.144,32.
O laudo mostra várias contradições. Uma delas é que há guias de trânsito animal (GTAs) das fazendas de Renan em nome de outros vendedores: no de sua mãe, Ivanilda Calheiros, há ´29 GTAs, correspondentes a 508 animais´, e no de seu irmão Remi Calheiros, ´uma GTA, por 20 animais´.
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