(texto atualizado com declarações e novos dados sobre feridos)
Por Matt Robinson
MITROVICA, Kosovo, 17 de março (Reuters) - Sérvios usaram armas de fogo e granadas contra policiais da Organização das Nações Unidas (ONU) e soldados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Kosovo, na segunda-feira, no pior episódio de violência ocorrido ali desde que os albaneses da região declararam sua independência da Sérvia, um mês atrás.
Segundo a Otan, seus soldados viram-se na mira de disparos de armas automáticas na cidade de Mitrovica, norte de Kosovo, em conflitos com os sérvios, contrários à independência. Os choques começaram depois de uma unidade da polícia especial da ONU, com o apoio de soldados da Otan, ter invadido uma corte da ONU ocupada por sérvios na sexta-feira.
Mitrovica tem população albanesa e sérvia.
Meios de comunicação sérvios disseram que 70 civis tinham ficado feridos, além de 12 policiais da ONU e 12 membros das forças de paz lideradas pela Otan (chamadas de Kfor).
Os embates chamam atenção para o risco de o território de Kosovo dividir-se por etnias como resultado de sua declaração de independência, em 17 de fevereiro.
A Rússia, aliada da Sérvia, exigiu moderação da parte da Otan. E o governo sérvio afirmou estar realizando consultas com a liderança russa para a adoção de medidas conjuntas com o intuito de proteger a população sérvia que mora em Kosovo.
O líder de um partido oposicionista da Sérvia disse que a Otan comportava-se como os ocupantes nazistas da Segunda Guerra Mundial. Mas um porta-voz da aliança militar afirmou que as forças da Otan não cederiam ao que descreveu como atos de violência realizados por gangues organizadas.
Esse é o terceiro grande ato de desafio à autoridade da Otan e da ONU no norte de Kosovo, dominado pelos sérvios, desde que os manifestantes queimaram dois postos de fronteira, no mês passado.
A União Européia (UE) viu-se obrigada a retirar um escritório seu daquela região por causa da ameaça de violência.
O diretor de um hospital da Sérvia disse que três dos sérvios feridos se encontram em estado grave, um deles tendo recebido uma bala na cabeça disparada por um "franco-atirador."
Segundo um porta-voz da Otan, tiros de advertência tinham sido disparados para o alto, não contra a multidão.
Soldados da Kfor conseguiram mais tarde controlar a área.
"A Otan condena da forma mais contundente a violência que se verificou no norte de Kosovo hoje", afirmou James Appathurai, porta-voz da Otan. "A Kfor responderá firmemente a quaisquer atos de violência, conforme dita o mandato das Nações Unidas", acrescentou.
A Sérvia acusou a ONU e a Otan de terem usado força excessiva.
O primeiro-ministro interino da Sérvia, Vojislav Kostunica, acusou a Otan de "implementar uma política de força contra a Sérvia" e disse que seu país e a Rússia discutiam a adoção de medidas capazes de interromper "todas as formas de violência contra os sérvios de Kosovo".
A declaração gerou boatos sobre a possibilidade de a Sérvia convidar soldados russos para ingressarem no norte de Kosovo, dominado pelos sérvios, como forças de paz. Essa ação minaria a autoridade da Kfor, criaria uma situação conflitiva e abriria a possibilidade de divisão do território.
O presidente sérvio, Boris Tadic, lembrando os levantes albaneses de 17 de março de 2004, quando 19 pessoas foram mortas e centenas de casas de sérvios, queimadas, alertou para o risco de surgir um novo "pogrom" albanês contra a minoria de 120 mil sérvios residentes em Kosovo.
Tomislav Nikolic, do partido Radicais, o maior da Sérvia e da oposição, descreveu a ação das forças internacionais como algo "brutal e selvagem", segundo a agência de notícias Tanjug.
Nikolic disse que aquela investida lembrava-o "do que o regime de ocupação nazista fez contra os sérvios" na Segunda Guerra Mundial.
(Reportagem adicional de Fatos Bytyci, Shaban Buza e Marija Novak)
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/03/17/forcas_da_otan
_da_onu_enfrentam_servios_em_kosovo-426267178.asp
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