sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Terremoto no Peru mata 450 pessoas; há corpos nas ruas



Por Jean Luis Arce





PISCO (Reuters) - Equipes de resgate retiraram centenas de corpos de casas e igrejas na quinta-feira, empilhando muitos deles em esquinas, depois do violento terremoto na noite anterior no litoral central do país.





Cerca de 450 pessoas foram mortas pelo tremor, de magnitude 8, segundo autoridades da Defesa Civil e dos bombeiros e as Nações Unidas. Outras 2.000 pessoas ficaram feridas, e o número de vítimas fatais ainda deve subir.





Enquanto as equipes de resgate procuram sobreviventes nos destroços, moradores em choque tomavam conta dos cadáveres na rua, sem saber aonde levá-los.





"Não sei o que fazer, não sei onde velá-la", dizia José Flores, de aproximadamente 12 anos, ao lado do corpo da mãe, com quem vivia numa casa de barro totalmente destruída na cidade de Chincha, 200 quilômetros ao sul de Lima.





Na vizinha Pisco, 48 corpos estavam espalhados na praça central.





O Serviço Geológico dos EUA corrigiu de 7,9 para 8 a magnitude do tremor, que chegou a ser sentido em Manaus. Na manhã de quinta-feira, houve violentos tremores secundários.
Muitos hospitais estão sobrecarregados. No San José, de Chincha, as paredes foram destruídas pelo tremor, e os feridos aguardam no chão.





Hernando Rodríguez contou a uma TV local que sua filha foi atingida por uma parede e precisava ser transferida para Lima. "Não há leitos e não podem lhe dar um leito até fazerem um raio-x dela, mas não há energia", queixou-se.





Centenas de presos fugiram da velha penitenciária Tambo de Mora, em Chincha, que desabou. "As autoridades não puderam fazer nada, foi realmente difícil controlar os prisioneiros", disse Manuel Aguilar, vice-diretor da entidade carcerária peruana. Ele afirmou que 29 presos ficaram para trás.





No hospital San Juan de Dios, em Pisco, o médico Ricardo Cabrera dizia que a equipe tinha de lidar com 200 feridos e mais de 40 mortos, sem energia e com grande parte do hospital destruída. Não há necrotério na cidade, e os corpos estão sendo reunidos em praças e esquinas. Além disso, segundo o médico, ainda há corpos nos escombros. Em entrevista a uma rádio, ele pediu o envio de sangue, ataduras e remédios.





Em várias cidades, as pessoas se viram obrigadas a dormir no relento. O tremor abriu rachaduras em estradas e interrompeu o serviço de energia e telefones.





O presidente Alan García enviou pêsames às famílias das vítimas e disse que o desastre poderia ter sido ainda maior. Em 1970, cerca de 50 mil peruanos morreram devido a deslizamentos de gelo e lama sobre a localidade de Yungay após um terremoto.





O Serviço Geológico dos EUA disse que o epicentro do tremor foi cerca de 145 quilômetros a sudeste de Lima, com foco a 40 quilômetros de profundidade, e com nove tremores secundários quase instantâneos.





A mina Cerro Lindo, de cobre, zinco e chumbo, suspendeu suas operações devido à falta de energia, mas suas estruturas estão intactas. A maior parte da mineração do Peru, motor da economia do país, ocorre em áreas distantes do tremor.





AJUDA
No Brasil, um pequeno tremor foi sentido no bairro mais alto da cidade de Manaus, chamado Aleixo. A Defesa Civil local informou que recebeu duas ligações de moradores de dois prédios, após sentirem um tremor de 20 segundos por volta das 20h (horário local). Os prédios foram esvaziados, e uma checagem realizada não constatou nada de anormal.





O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu assistência humanitária ao Peru e manifestou solidariedade, segundo nota do Itamaraty.





García pediu a Lula o envio de "água, alimentos em conserva e barracas" para atender as milhares de pessoas que ficaram desabrigadas. O presidente brasileiro confirmou as doações, que também incluirão remédios.






Outros países da América Latina, consternados com o ocorrido, também ofereceram ajuda ao Peru.






O papa Bento 16 rezou pelas vítimas da tragédia e fez um apelo por ajuda imediata aos feridos e desabrigados.






(Com reportagem de Terry Wade e Maria Luisa Palomino no Peru, e colaboração de Henrique Melhado Barbosa em São Paulo)

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