sexta-feira, 20 de junho de 2008

Brasil/Justiça indicia 11 militares por morte de jovens











Quatro tiveram a prisão preventiva decretada; se forem condenados, poderão pegar de 36 a 90 anos de cadeia





RIO - Os 11 militares investigados pela morte de três jovens do Morro da Providência, no Rio, presos temporariamente desde domingo , foram indiciados ontem por homicídio triplamente qualificado – cometido por motivo torpe, com meio cruel e sem chance de defesa das vítimas. Além disso, quatro deles tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz Edmundo Franca de Oliveira, da 2ª Auditoria Militar do Rio, para impedir que atrapalhem a investigação. Os jovens foram entregues pelos militares a traficantes do Morro da Mineira, após terem sido detidos por desacato. “Todos tinham conhecimento do resultado que aconteceria com a entrega dos jovens aos traficantes. Houve tempo suficiente para que tomassem atitude, nem que fosse avisar ao comando superior”, afirmou o delegado Ricardo Dominguez, responsável pelo indiciamento.





Se forem condenados pela Justiça, a pena poderá ser de 36 a 90 anos de prisão. No inquérito, finalizado ontem em 200 páginas, o delegado pediu à Justiça civil a preventiva dos 11 militares e a quebra do sigilo telefônico de alguns deles. Para o delegado, a “ordem dada pelo tenente Vinícius Guidetti foi ilegal”. Segundo ele, os militares estavam na base de comando, no Santo Cristo, descansando antes de assumir um novo turno na Providência. Guidetti, então, reuniu os subordinados e mandou que subissem com os jovens no caminhão do Exército. “Eles sabiam que não era a rotina. Não haveria sentido sair no momento do descanso, muito menos fora da rota normal. Deveriam sair do Santo Cristo para a Central do Brasil, não para o sambódromo”.





Na opinião de Dominguez, a hipótese mais provável é a de que o elo entre militares e traficantes tenha sido o soldado José Ricardo Rodrigues, cuja família mora em uma favela do complexo do São Carlos. Ele teria sido chamado pelo tenente para servir de guia até o Morro da Mineira. “A conclusão é que houve um contato prévio (com o tráfico). O meio utilizado não ficou claro”, disse. O indiciamento dos 11 homens por homicídio triplamente qualificado vai gerar controvérsias em torno da intenção deles, segundo especialistas ouvidos pela reportagem. “O delegado entendeu que os militares assumiram o risco da morte dos jovens ou quiseram o resultado morte”, explicou o jurista Alberto Toron. “Com esse indiciamento, a polícia entende que eles devem ser enquadrados como partícipes no crime a que responderão os traficantes”, disse o criminalista Cristiano Avila Maronna.





No entanto, se ficar comprovada a versão do tenente Guidetti, pela qual a intenção era dar apenas “um susto” nos rapazes, os militares podem ser enquadrados em um crime menos grave. O objetivo de sua defesa é justamente mostrar que, “para ele, era impossível ocorrer as mortes dos rapazes. Ele não teve nem a vontade, nem a previsão de que isto aconteceria”, disse o advogado Figueiredo Rocha.





Assassinos - Até o fim da tarde de ontem, cinco dias após a morte dos três moradores do Morro da Providência, no centro, a polícia do Rio ainda não havia realizado nenhuma operação para localizar os assassinos, do Morro da Mineira, na zona norte. Ontem, os delegados da 4ª DP, na Central do Brasil, Ricardo Dominguez, e 6ª DP, na Cidade Nova, Rodolfo Waldeck, e o diretor de Polícia da Capital, delegado Sérgio Caldas, reuniram-se para discutir estratégia de investigação dos responsáveis pelas mortes. O inquérito será comandado pelas duas delegacias, com apoio de especializadas. Caldas negou que a investigação esteja em ritmo lento. (AE)





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General defende permanência do Exército

BRASÍLIA - Comandante do Exército, o general Enzo Peri defende a permanência dos militares no Morro da Providência e diz que nunca conversou com o presidente Lula sobre os trabalhos na favela. Ele alega que a obra é importante para a comunidade, porque melhora as condições de vida da população da Providência, favela ao lado do Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste. Peri diz que “não cogita” desenvolver este trabalho com a proteção da Força Nacional de Segurança Pública, como definiu liminar da Justiça. Indagado se defendia a atuação do Exército em morros ou regiões em que o estado não entra, lembra que existe “um clamor” da população para a atuação das Forças Armadas, mas ressalta que é preciso debater abertamente o assunto. A seguir, os principais trechos da entrevista à reportagem.





AGÊNCIA ESTADO - Por que o Exército apóia a decisão do governo de recorrer contra a retirada dos militares do morro? No Planalto há setores contra a presença das tropas na área.





ENZO PERI - O Morro da Providência está junto a um quartel nosso, o Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste. É uma área que estava com problemas sérios de tráfico. Quando surgiu a oportunidade deste projeto com o Ministério das Cidades, entendemos que era uma boa oportunidade.





AE - Foi uma decisão política fazer esta obra? Nesta obra não houve mistura de eleições com o Exército? Houve pedido do presidente?





EP - Da parte do Exército, não existiu e não existe isso. Eu nunca tratei deste assunto com o presidente da República. Não tratei com o ministro.





AE - Mas era óbvio que a obra iria se estender pelo ano eleitoral?





EP - Para mim interessa que estou tratando com o Ministério das Cidades, que é um órgão permanente. Entendemos que a obra é muito importante para a comunidade.





E só nesta primeira fase, que estamos terminando em 45 dias, ela dá trabalho para cerca de 80 moradores, que passaram a ter carteira assinada. A concepção da obra é emprego da mão-de-obra local. Na segunda fase, absorveria mais de 300 pessoas da comunidade.





AE - Mas e se o Exército tiver de sair do morro?





EP - Aí, o Exército sai.





AE - Mas o Exército acharia ruim sair, como se estivesse sendo expulso pela sociedade?





EP - Essa consideração deve ser da sociedade e não da Força. Nós estamos lá querendo ajudar a comunidade.





AE - O Exército acha possível ficar lá, com a segurança do seu trabalho sendo feita pela Força Nacional de Segurança Pública?





EP - Não estou cogitando isso. (AE)




www.correiodabahia.com.br/poder/noticia.asp?codigo=155978


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