quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Genocídio arménio de 1915 abala relações com os EUA


Carlos Gomes





MURAD SEZER / ap
Centenas de turcos protestaram junto da Embaixada dos EUA em Ankara





No dia em que o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou que apresentaria ao Parlamento da Turquia um pedido de autorização do Governo para fazer uma incursão militar no Iraque contra rebeldes separatistas curdos, uma comissão do Congresso norte-americano aprovou um texto que reconhece como genocídio o assassínio em massa de arménios, por turcos otomanos, durante a Primeira Guerra Mundial (ver texto ao lado).




O recém-eleito presidente turco, Abdullah Gul, condenou o texto aprovado pela comissão da Câmara dos Representantes norte-americana e disse que a atitude é "inaceitável", considerando-a susceptível de lesar as relações entre a Turquia e os Estados Unidos da América (EUA).




O texto aprovado anteontem pela Comissão de Negócios Estrangeiros da câmara baixa do Congresso dos EUA - por 27 votos contra 21 - deverá ser agora apresentado àquela câmara para eventual votação em sessão plenária.




As autoridades turcas rejeitam veementemente a classificação de "genocídio" para qualificar o massacre de arménios em 1915, sob o Império Otomano, ao qual sucedeu a Turquia em 1923. Em vez disso, chamam-lhe "represálias" contra um povo que se aliou ao inimigo russo em plena Primeira Guerra Mundial. A agência noticiosa turca, Anatólia, revelou que o Governo da Turquia já convocou o seu embaixador em Washington, Nabi Sensoy. Por outro lado, Recep Tayyip Erdogan declarou que o seu gabinete fará tudo para impedir que a Câmara dos Representantes dos EUA aprove o referido texto.




O presidente dos EUA, George W. Bush, mobilizou os seus ministros contra o texto aprovado pela Comissão de Negócios Estrangeiros do Congresso. Segundo a Casa Branca, trata-se de uma ameaça à aliança estratégica de Washington com a Turquia e a missão militar dos EUA no Iraque. Recorda-se que a Turquia (membro da OTAN) facilita o trânsito, através do seu território, do reabastecimento das missões dos EUA no Iraque e no Afeganistão.




Entretanto, o Governo Autónomo Curdo do Iraque advertiu ontem a Turquia sobre a anunciada intenção de atacar militarmente milhares de rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no norte do Iraque. O PKK é considerado uma "organização terrorista" pelo Governo turco.




O embaixador do Iraque na Turquia, Sabah Omran, citado pela Imprensa iraquiana, afirmou ontem que uma intervenção turca no Iraque seria ilegal.




Massacre e êxodo




A Argentina, Bélgica, Canadá, França, Itália, Rússia e Uruguai contam-se entre as duas dezenas de países que já reconheceram formalmente que os turcos otomanos perpetraram genocídio contra os arménios, durante a Primeira Guerra Mundial. O Império Otomano - enfrentando então a aliança formada pela França, Grã-Bretanha e Rússia - convocou todos os seus homens para a luta. O recrutamento não foi bem aceite por muitas das minorias étnicas e religiosas. Os arménios insurgiram-se contra a guerra e a opressão do Governo central e muitos deles aliaram-se aos russos. Em 24 de Abril de 1915, os turcos mataram centenas de arménios e, em Maio seguinte, a comunidade arménia (dois ou três milhões de pessoas) foi forçada a partir para a Síria e a Mesopotâmia (actual Iraque).


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