Cairo, 16 jan (EFE).- As diferenças entre os países árabes sobre a crise na Faixa de Gaza foram hoje manifestadas em duas reuniões extraordinárias, uma de chefes de Estado em Doha (capital do Catar) e outra ministerial no Kuwait.
Da cúpula de Doha participaram aqueles estados, como Síria, Catar e Sudão, partidários de adotar uma linha mais dura em relação a Israel por ter lançado uma ofensiva militar sobre Gaza, e os favoráveis do diálogo com o grupo palestino Hamas, que controla a região.
Prova dessa linha dura é que os 13 países árabes presentes pediram no comunicado final da cúpula para que qualquer processo de normalização de relações com Israel seja paralizado, o que representa reconsiderar seus laços econômicos e políticos com o Estado judeu, segundo a rede de televisão catariana "Al Jazira".
Mauritânia e Catar decidiram, inclusive, congelar as relações políticas e econômicas com Israel, pouco depois que o presidente sírio, Bashar al-Assad, pediu aos países árabes que cortassem seus laços, tanto diretos como indiretos, com o país.
A cúpula do Catar - da qual participaram dirigentes da Argélia, Líbia, Síria, Somália, Líbano, Sudão, Mauritânia, Iraque, Djibuti, Comores, Catar, Omã e Marrocos - começou com críticas ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, por ele não ter aparecido.
O primeiro-ministro catariano, Hamad bin Jassim, revelou em entrevista coletiva logo após o encontro que ontem à noite teve uma conversa telefônica com Abbas, que lhe confessou que não podia viajar para Doha por causa das pressões que sofre.
Frente à ausência de Abbas, destacou a presença dos líderes das facções palestinas Hamas, Khalid Mashaal, Jihad Islâmica, Ramadan Shalah, e o da Frente Popular para a Libertação da Palestina-Comando Geral, Ahmad Yibril.
Também não mandaram nenhum representante a Doha os considerados países árabes moderados - Egito, Jordânia e Arábia Saudita -, que anteriormente tinham manifestado sua preferência de tratar sobre o assunto de Gaza no marco de uma conferência econômica no Kuwait, que começará na próxima segunda-feira.
O Catar convidou países não-árabes, como o Irã, que foi representado por seu presidente, Mahmoud Ahmadinejad, assim como Venezuela, Indonésia, Senegal e Turquia, que participaram da reunião com representantes.
Justamente esta participação não-árabe, gerou as críticas do secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, que do Kuwait se queixou que a cúpula de Doha foi realizada fora do marco de sua instituição.
"A cúpula de Doha foi uma mistura de árabe e islâmica, portanto realizada fora do marco da Liga Árabe", explicou Moussa, ao término da reunião extraordinária dos ministros de Assuntos Exteriores árabes no Kuwait, segundo a agência "Mena".
Nesta reunião, da qual participaram representantes dos 22 membros da Liga Árabe, foi preparada a agenda da cúpula econômica da próxima segunda-feira no Kuwait, que incluirá a crise de Gaza.
Neste sentido, Moussa lembrou que "haverá uma cúpula totalmente árabe no Kuwait e é preciso esperar para ver as resoluções que sairão dela", advertindo sobre os prejuízos causados pelas atuais divisões.
Para que os países árabes se reúnam em uma cúpula é preciso que dois terços dos membros da Liga Árabe a aprovem, mas o Catar decidiu continuar adiante com a realização da reunião em Doha, ao considerar que tinha que tratar sobre o tema de Gaza separadamente, e não no marco de um encontro econômico.
Durante a reunião ministerial no Kuwait, se defendeu a iniciativa egípcia para o fim das hostilidades em Gaza, que contempla, entre outros, uma trégua, a abertura dos postos fronteiriços e o início de negociações para evitar que o conflito se repita.
No dia 27 de dezembro, Israel iniciou uma ofensiva militar que já deixou 1.160 palestinos mortos e mais de 5.000 feridos, além de 13 vítimas fatais israelenses - três deles civis - e 200 feridos. EFE
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