quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Sem aviso prévio, Uribe desautoriza Chávez a negociar com as Farc

BOGOTÁ (AFP) — O governo colombiano confirmou nesta quinta-feira a decisão de dar por encerrada a mediação do presidente venezuelano, Hugo Chávez, para uma troca humanitária na Colômbia, ao mesmo tempo em que anunciou que continuará buscando o intercâmbio por um caminho mais "discreto".


Uribe havia autorizado o colega venezuelano a negociar um acordo para trocar 500 rebeldes presos por pelo menos 45 reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Entre eles, estão a política colombiano-francesa Ingrid Betancourt, os americanos Keith Stansell, Thomas Howes e Marc Gonsalves, assim como dezenas de políticos, militares e policiais colombianos.


De Paris, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, pediu a Uribe "que mantenha o diálogo" com Chávez para conseguir a liberdade dos reféns.


Em um discurso pronunciado nesta quinta-feira, Uribe garantiu que manterá "todos os esforços pela paz e o acordo humanitário, mas levando em conta que não se pode pôr em risco a segurança democrática", de luta contra a guerrilha, apoiada por Washington.


"Preferimos a discrição, o trabalho interno e persistente, porque a libertação de todos os seqüestrados e a conquista de solução humanitária e definitiva são objetivo central do governo", explicou o alto comissário da Paz, Luis Carlos Restrepo, em entrevista à imprensa.


"Quero ressaltar que a decisão tomada pelo presidente da República (Alvaro Uribe) em nenhum momento deve ser entendida por familiares ou a opinião pública como mudança em nosso propósito para conseguir a libertação dos seqüestrados", frisou.


O governo colombiano se referiu, nesta quinta, a "falhas no método" de mediação do presidente Chávez, entre elas a "falta" de discrição nos diálogos para a troca de reféns em poder das Farc.
"Hoje, conversei com o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, e expliquei a ele nosso ponto de vista; sobre como esse esforço conjunto havia falhado", contou Restrepo, deixando claro que, "em muitas ocasiões, não se teve a precaução necessária para lidar com o assunto com a discrição devida".


"O presidente Chávez se comprometeu, e podemos constatar seu esforço, mas reitero o comunicado do presidente Uribe que é muito claro, muito preciso", completou.


Na noite de quarta-feira, Uribe encerrou de forma repentina a mediação de Chávez, iniciada no dia 31 de agosto a pedido de Bogotá, devido a uma ligação feita pelo presidente venezuelano ao comandante do Exército colombiano, general Mario Montoya, para interrogá-lo sobre os seqüestrados das Farc.


Para o governo da Colômbia, o fato representou um desrespeito às regras estabelecidas, ou seja, a proibição de que o mediador entrasse em contato com o Exército colombiano.


Familiares dos seqüestrados pelas Farc receberam o anúncio oficial com desesperança e críticas e protestaram contra a decisão de Uribe de acabar com a mediação de Chávez.


"Convocamos um protesto para a tarde desta quinta para pedir respeito e que o presidente Alvaro Uribe reconsidere sua decisão de excluir o presidente Chávez de seu papel a favor da troca humanitária", afirmou Marleny Orjuela, porta-voz dos familiares de policiais e soldados seqüestrados.


Fabrice Delloye, ex-marido de Betancourt, disse a uma rádio francesa que a situação é "dramática", pois demonstra que Uribe "não quer encontrar uma solução pacífica e que não quer que os reféns voltem para suas casas".


Em Bogotá e Paris, comitês de apoio às famílias dos reféns anunciaram protestos.
Ainda que a decisão de Uribe tenha sido inesperada, Bogotá já havia fixado o dia 31 de dezembro como data-limite para a gestão do presidente venezuelano, depois que este não conseguiu cumprir seu compromisso de levar para Paris as provas de sobrevivência de Betancourt prometidas pelas Farc.


Na terça-feira, Chávez se reuniu com Sarkozy e, depois de assegurar que a refém estava viva, revelou que Uribe estava disposto a autorizar uma reunião sua com o chefe das Farc, Manuel Marulanda, desde que sob condições.

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