domingo, 5 de agosto de 2007

Duro de Matar 4.0


(Live Free or Die Hard / Die Hard 4, 2007)




Por: Thiago Siqueira





A volta do policial John McClane ao mundo dos blockbusters foi uma manobra bastante arriscada. Entretanto, como em seus filmes, o personagem conseguiu se safar de mais uma ameaça, entregando um filme de ação que, apesar de pontualmente falho, consegue divertir.




Faz muito tempo desde a última vez que vimos John McClane pulando, xingando, atirando, dizendo frases de efeito, fazendo escapadas impossíveis e batendo no vilão da vez. Para muitos, a trilogia "Duro de Matar" estrelada por Bruce Willis foi uma das melhores franquias de ação de todos os tempos e me incluo dentre esses, já que é bastante difícil encontrar longas que combinem tão bem ação e comédia, adicionando também uma boa dose de tensão para sabermos como McClane escapará da nova roubada que, sabe-se lá Murphy, ele conseguiu se meter. Foi com certa desconfiança que acompanhei a produção deste novo exemplar da série, já que Willis não é mais aquele e que o diretor responsável pelo longa, Len Wiseman, não tem lá esse prestigio todo, sendo responsável pelo apenas regular "Underworld - Anjos da Noite" e por sua terrível seqüência. Fiquei positivamente surpreso ao assistir à "Duro de Matar 4.0", já que Willis provou que ainda consegue segurar o rojão e que Wiseman conseguiu contornar a maioria de suas limitações e entregar uma produção bacana. Porém, como poderia se esperar, o filme tem seus defeitos, um deles bastante incômodo.




A fita começa com alguns hackers entregando um serviço que seria, supostamente, para o governo. Porém, cada um deles passa a ser eliminado após entregarem seus trabalhos. Em seguida, ocorre uma invasão nos servidores do FBI, deixando a agência em alerta. Enquanto isso, o bom e velho John tem um turbulento (e engraçado) encontro com sua crescida filha Lucy (Mary Elizabeth Winstead). Os fãs da série vão adorar o fato de os dois repetirem um diálogo que ocorreu entre o próprio McClane e sua esposa Holly no primeiro "Duro de Matar". Cansado e frustrado, o detetive recebe de seu chefe a incômoda missão de escoltar um hacker chamado Matt Farrell (Justin Long) para Washington, para prestar esclarecimentos aos agentes federais. Claro que o encontro do policial durão e do nerd de carteirinha não é lá muito agradável, com McClane quebrando os "itens de colecionador" de Matt e este tentando escapar desastradamente. Porém o que se segue é uma movimentada cena de ação com os agentes do vilão da vez tentando matar o hacker, sendo impedido pelo nosso protagonista. Ao chegar a Washington, a dupla encontra o sistema de trânsito da cidade jogado no caos. Tendo o apoio do Agente Especial Bowman, eles descobrem que estão contra terroristas que pretendem realizar uma "queima de estoque", uma mítica invasão hacker que acabaria com o sistema de tráfego, financeiro e de serviços básicos dos EUA. Após descobrirem a identidade do líder do bando, Thomas Gabriel (Timothy Olyphant), antigo programador-chefe do Departamento de Defesa americano, que fora enxotado de seu cargo após provar que o sistema americano era extremamente frágil. Não demora até o despojado John fazer de Gabriel um inimigo pessoal, o que acaba colocando sua filha em risco.




O grande problema do longa é que, ao contrário dos exemplares anteriores da série, não sentimos a mínima tensão durante as agitadas cenas de ação nas quais McClane se envolve. Isso ocorre porque o roteiro escrito por Mark Bomback (do fraquíssimo "O Enviado") e o diretor Len Wiseman jogam na tela uma versão "aperfeiçoada" do personagem principal da série. Não importa o que você faça com o nosso protagonista, ele vai sempre voltar e ainda dizer a piadinha certa, no momento certo, além de ser politicamente correto. Essa falha é minorada graças à atuação de Bruce Willis. Não só ele continua em forma para convencer nas cenas menos absurdas do longa, como, quando a direção permite, o ator se solta no personagem, seja nas ótimas cenas cômicas ou nas (poucas) mais intimistas, onde ele permite que enxerguemos por baixo de sua couraça. Em uma cena em especial, McClane relata o preço do seu heroísmo, da cruz que tem de carregar por ser sempre o "cara errado na hora errada". Além disso, Willis possui uma ótima química com a parte mais jovem do elenco, o que dá maior credibilidade a cumplicidade das relações existentes no longa.




O personagem de Justin Long é o exato contraponto de McClane. Além de prover o protagonista com as informações técnicas necessárias para que ele vá atrás do vilão, ele é o escoadouro necessário das já clássicas reclamações de McClane e a atuação despretensiosa de Long dá certo diferencial a seu personagem, que oscila entre a covardia e a coragem desesperada. Já o Thomas Gabriel de Timothy Olyphant não consegue ser tão carismático quanto o Hans Gruber vivido por Alan Rickman no primeiro filme da série. Essa comparação com Gruber existe, pois o perfil dele e de Gabriel são um tanto quanto parecidos. Olyphant faz o que pode para dar um "quê" a mais para seu vilanesco papel, inclusive em seu relacionamento com Mai (Maggie Q), porém acaba sendo mais um vilão genérico de filmes de ação, não conseguindo ser uma ameaça real pra McClane, mesmo com seus esquemas mirabolantes e planos alternativos, o que enfraquece o personagem, apesar da boa atuação do ator. A jovem Mary Elizabeth Winstead consegue marcar bem sua presença no filme, deixando uma ótima impressão como Lucy McClane (ou seria Gennaro?). Apesar de parecer apenas uma "mocinha indefesa" no trailer, sua personagem mostra que realmente é filha de um cara "duro de matar", mantendo sempre a língua afiada na frente do perigo, algo que a boa atuação da atriz consegue mostrar muito bem. Cliff Curtis pouco tem a fazer como o Agente Bowman além de alguns diálogos com subordinados e um sermão em cima de dois agentes da Segurança Interna dos EUA. Já o cineasta e "rei dos nerds" Kevin Smith tem uma ótima participação especial no filme como um hacker que dá uma "mão amiga" à McClane.




A megalomania de Len Wiseman atrapalhou um pouco sua direção. Apesar de dominar muito bem os aspectos técnicos do trabalho e possuir um senso visual apurado, ele não consegue fazer com que sua narrativa flua bem. Ao colocar uma forçadíssima cena de perseguição envolvendo um caminhão e um jato, acaba por tirar a força do confronto final entre os personagens e levar as habilidades do personagem principal do filme a níveis meta-humanos, sendo esta a cereja do bolo de exageros do filme. Porém, elogios devem ser feitos quando se merecem e a idéia de o vilão anunciar seu ataque se utilizando de vídeos presidenciais foi ótima - e muito bem executada, diga-se de passagem. A fotografia do filme, feita por Simon Duggan, é saturada um pouco além do que seria desejável, o que acaba ressaltando a origem computadorizada dos efeitos especiais. Já a edição do longa, feita por Nicolas de Toth, merece elogios por manter as elaboradíssimas seqüências de ação "entendíveis", fazendo com que o público não se perca no meio delas. A trilha sonora de Marco Beltrami quase não se destaca durante o filme, sendo um tanto quanto genérica - a bem da verdade, com os efeitos sonoros do longa, mal se ouve a trilha. Nesse departamento, porém, deve-se elogiar quem escolheu as músicas de Creedence Clearwater para McClane ouvir, marcando bem a idade do personagem.




Apesar da aparente "infalibilidade" de seu protagonista, "Duro de Matar 4.0" respeita seus antecessores, sendo um filme extremamente divertido e bem feito. Nessa onda "nostálgica" que Hollywood vem passando, o velho e bom McClane até que não decepcionou.

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