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César Muñoz Acebes.
Washington, 21 jan (EFE).- Barack Obama pediu nesta terça-feira aos americanos para se prepararem para um período complicado da história dos Estados Unidos, em discurso de posse no qual prometeu mudança, mas não de forma radical.
O pronunciamento, no qual o novo líder não usou o lema de campanha "yes, we can" ("sim, nós podemos"), foi marcado pela ausência de menções ao que significa ser o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
No entanto, ele falou sombriamente sobre um "inverno de dureza" e das "correntes geladas" que o país enfrenta -em um dia especialmente frio -, e descreveu a crise econômica sem atenuantes.
"Nossa economia está muito debilitada, como conseqüência da avareza e da irresponsabilidade de alguns, mas também pelo fracasso coletivo em tomar as decisões difíceis e preparar a nação para uma nova era".
Diante destes erros, Obama pediu uma "nova era de responsabilidade" pessoal e que o país inteiro se esforce.
"A partir de hoje (terça-feira), devemos nos levantar, tirar o pó e começar de novo o trabalho de refazer os Estados Unidos", disse.
Neste sentido, suas palavras contrastaram com o delírio do mar humano que o ouvia e que tinha ido a Washington para fazer parte da História. Para esses, Obama teve uma atuação regular, sem grandes declarações.
O discurso de terça-feira, de certa forma, colocou fim à época de campanha e apresentou Obama como governante, como pessoa que será obrigada a tomar decisões que não agradarão a todos e que gerarão dúvidas sobre ele.
"Obama disse basicamente que é bom festejar o momento, mas que há trabalho duro pela frente", disse à Agência Efe Stephen McKenna, professor da Catholic University, em Washington.
O novo chefe de Estado marcou uma diferença clara com seu antecessor, George W. Bush, que deixou nesta terça-feira a Casa Branca pela porta de trás, após mergulhar os Estados Unidos em uma recessão e em duas guerras, no Iraque e Afeganistão.
Obama prometeu mudança, mais uma vez, mas não uma refundação do país. Ele pediu aos americanos para retomar as "verdades" que fizeram os Estados Unidos a nação que são: o trabalho duro, a honestidade, a coragem, a justiça, a tolerância e o patriotismo.
"Quis lembrar às pessoas de que não é um radical, que trará mudança, mas que é o verdadeiro defensor das ideias fundamentais, porque existe um medo real sobre o que ele possa fazer", afirmou James McCann, professor de Ciências Políticas da Universidade de Purdue, em Indiana.
Neste sentido, seu discurso soou inclusive conservador. A mudança que prega é, pois, uma volta aos princípios fundamentais da nação, que deixou entender que o país deixou de lado.
Desta forma, afirmou que é falsa "a escolha entre nossa segurança e nossos ideais", pois as duas são possíveis ao mesmo tempo.
Trata-se de uma referência ao aumento extraordinário do poder por parte do Governo Bush para deter suspeitos -e encerrá-los indefinidamente na base naval de Guantánamo-, e para espionar os americanos em nome da segurança nacional.
No terreno internacional, também demarcou uma linha no chão para se separar do unilateralismo de Bush.
O líder lembrou que os Estados Unidos derrotaram o fascismo e o comunismo "com alianças robustas e convicções duradouras".
"Nosso poder por si só não pode nos proteger, nem nos dá direito de fazer o que queremos", afirmou.
Obama ofereceu "um novo caminho à frente" ao mundo muçulmano e disse estar disposto a estender a mão aos regimes autoritários do Oriente Médio, se eles estiverem dispostos "a abrir o punho".
No discurso, houve algumas menções superficialmente à segregação racial, mas Obama não fez referência aos líderes negros que abriram o caminho para que ele chegasse onde está, nem a suas próprias lutas como filho de uma mulher do Kansas e de um homem do Quênia.
"Um branco poderia ter feito o mesmo discurso feito por Obama" nesta terça-feira, afirmou David Schultz, professor da Universidade de Hamline, em Minnesota.
Para Dante Scala, especialista em política na Universidade de New Hampshire, trata-se de uma decisão expressa de não se apresentar como um político negro, mas simplesmente como um cidadão americano.
Isso não diminuiu o fervor dos milhares de negros que chegaram a Washington para ver o que nunca acharam que aconteceria. Para eles, a mudança já aconteceu. EFE
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