sábado, 12 de julho de 2008

Ramos-Horta acusa ONU de mentir em relatório sobre ataques








da Lusa, em Dili

O presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, disse que as Nações Unidas "mentiram" em um relatório confidencial sobre os ataques de que foi vítima, em fevereiro deste ano.

"A ONU tem uma prática muito negativa de fuga de informação", disse o líder timorense à Agência Lusa, afirmando que conversas que o governo mantinha com o ex-chefe da Missão Integrada das Nações Unidas (Unmit), Sukehiro Hasegawa, costumavam vazar para a imprensa.

Em 11 de fevereiro, Ramos-Horta foi baleado em sua casa por um grupo de rebeldes. Pouco tempo depois, o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, escapou de uma emboscada.

Diante de críticas e acusações a sua atuação, proferidas pelo presidente e por seus assessores e familiares, as Nações Unidas fizeram uma investigação interna e elaboraram um relatório confidencial sobre a resposta das forças internacionais aos atentados, que estabelece que a ação foi "dentro das normas".

Na seqüência da divulgação do relatório pela Agência Lusa, o presidente telefonou, na manhã de sexta-feira, ao representante especial do secretário-geral da ONU no país, Atul Khare, segundo fontes da Presidência e da Unmit.

José Ramos-Horta não tinha conhecimento sobre as conclusões do relatório interno. "Estou desapontado também porque [o relatório] revela a tendência de funcionários da ONU de se esquivarem de suas responsabilidades e de nunca aceitarem que agiram incorretamente", acusou o presidente, entrevistado em sua residência, a leste de Dili.

Uma das conclusões do painel de investigadores da ONU, revelada pela Agência Lusa, é que a captura dos criminosos não foi uma prioridade das autoridades timorenses após o duplo ataque contra o presidente e o primeiro-ministro.

"É uma mentira dizer que a liderança timorense é que decidiu que perseguir os criminosos não era prioridade", disse Ramos-Horta.

"[Quando] há um incidente contra o chefe de Estado, as forças de segurança desdobram-se em ações. Mesmo que fosse verdade, que o governo dissesse que a prioridade não era essa, uma força de segurança não concentra todos os meios em uma operação", acrescentou o presidente.

Ramos-Horta mencionou que a Polícia das Nações Unidas (UNPol), integrada na Unmit, tem mais de mil agentes policiais e quatro unidades de polícia de intervenção. A eles, juntam-se os cerca de mil soldados das Forças de Estabilização Internacionais (ISF, sob comando australiano).

José Ramos-Horta mantém a acusação de que as forças internacionais "não fizeram tudo o que poderia ser feito" para perseguir o grupo de rebeldes, que incluía o ex-policial Amaro da Costa, também conhecido como Kaer Susar.

"Custava-lhes subir aqui as montanhas? O senhor Susar e seus homens ficaram ali em cima, durante horas. Só saíram daqui às 16h. E eles estavam aflitíssimos, com medo que helicópteros viessem", declarou José Ramos-Horta.

"O governo, no dia 11 de fevereiro, não fez decisões imediatas. Só tomou a decisão de estabelecer o comando conjunto precisamente porque viu a inoperância das Nações Unidas".

O comando conjunto juntou militares e policiais timorenses na operação "Halibur" de captura dos rebeldes.

"Xanana Gusmão chamou a si a liderança da situação, para capturar os responsáveis, quando viu que, da parte da UNPol e das ISF, não havia um plano", disse José Ramos-Horta, que também declarou que as duas forças internacionais "não gostaram da idéia" da criação do comando conjunto timorense.

José Ramos-Horta admite, porém, que, "depois de explicadas as razões" da formação do comando, ele recebeu "todo o apoio" das forças internacionais.

"Quem estava no terreno é que deve explicar por que razão não se tomaram, de imediato, medidas multifacetadas de segurança, mas também de perseguição aos foragidos", enfatiza José Ramos-Horta. "Vê-se que o relatório é desonesto, é para sacudir a água do capote. Como os patos".



www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u421769.shtml

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