quinta-feira, 1 de maio de 2008

Luta por Londres é a mais bizarra de eleições locais

Livingstone, trabalhista candidato à reeleição, e Johnson, aristocrático conservador, têm campanha marcada por ações e declarações inusitadas






Thomas Hüetlin





Nas eleições locais de hoje na Grã-Bretanha, a disputa pela prefeitura de Londres é, aparentemente, a mais bizarra. Durante a campanha, Boris Johnson, o aristocrático candidato conservador de 43 anos, fez o que pôde para responsabilizar o atual prefeito, Ken Livingstone, de 62, candidato à reeleição, por todos os contratempos da maior e mais cara cidade da Europa Ocidental. Dos homicídios entre adolescentes, que deixaram 26 mortos no ano passado e já somam 11 neste ano, aos novos ônibus articulados extralongos - que, segundo Johnson, deveriam ser banidos "para um aeroporto na Escandinávia". A lista inclui o pedágio diário de 25 libras (US$ 49), que o prefeito quer cobrar dos motoristas de veículos utilitários esportivos para que circulem pelo centro da cidade.






Johnson é conhecido por ir ao trabalho de bicicleta. Ele quer mais ciclovias na cidade. Isso tudo parece relativamente banal saindo da boca de um candidato que já chegou a dizer: "Votando nos conservadores, sua mulher conseguirá seios maiores e suas chances de dirigir uma BMW aumentarão."






Do outro lado, está Livingstone, o ex-rebelde de esquerda que administrou a cidade com surpreendente sucesso desde que chegou ao cargo em 2000, mas se tornou uma figura autoritária e impopular.






O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown - que ontem admitiu ter cometido erros ao adotar medidas tributárias que afetaram os mais pobres -, acompanha com ansiedade a eleição. Se os conservadores obtiverem a prefeitura pela primeira vez em 27 anos, isso deve acelerar a forte queda de popularidade de Brown.







Durante a campanha, Livingstone foi ao Distrito de Brent para fazer uma palestra sobre segurança pública. O ex-prefeito de Nova York, o republicano Rudy Giuliani, foi um modelo para tudo que seu colega de esquerda conseguiu em Londres: a criminalidade caiu 20% desde 2004 e a taxa de homicídios recuou 28%. Milhares de novos policiais foram contratados. Mas nada disso parece contar muito e os eleitores continuam com medo.






Livingstone é a amargura em pessoa. Está perdendo o apoio da classe média branca, que o considera arrogante e difícil de controlar - uma espécie de autocrata excêntrico que considera seu cargo um posto vitalício.






Ele não gosta muito de perguntas. Algum tempo atrás, apresentou-se no Conselho Municipal de Londres - equivalente à câmara de vereadores - às 10 horas da manhã com um copo de uísque. Dizia que precisava tomar uns golinhos como anestésico para sua garganta durante as longas sessões de perguntas e respostas.





No meio da campanha, o público tomou conhecimento de que Livingstone tinha três filhos a mais do que reconhecia oficialmente. Ele disse não imaginar que alguém acharia as revelações chocantes, já que ele não se tinha envolvido em nenhum comportamento indecente com "crianças, animais ou legumes".





Também a disposição de Johnson de quebrar tabus fez o seu sucesso na TV. Ele se envolveu num escandaloso romance com uma colunista do semanário Spectator. Isso lhe custou temporariamente o posto no gabinete paralelo conservador, mas ele retornou em 2005, como ministro da Educação Superior. Ele é conhecido como um orador brilhante e autor de tiradas cínicas.





As pesquisas indicam que as excentricidades de Johnson - e o cansaço dos londrinos de Livingstone - devem dar a vitória aos conservadores. Ele provavelmente não arruinará a cidade, uma vez que o prefeito tem poder limitado. Mas poderá arruinar seu partido.




Uma vitória de Johnson é, ao mesmo tempo, buscada e temida pelos conservadores. Se ele não mudar seu estilo, seu mandato potencialmente caótico porá em risco as chances dos conservadores na próxima eleição geral contra Gordon Brown.




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