Relatório reservado da polícia sustenta que deputado 'possivelmente' recebeu dinheiro ilícito da quadrilha
Fausto Macedo e Rodrigo Pereira, de O Estado de S. Paulo
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Paulinho foi monitorado pela Santa Tereza nos corredores da Câmara. Como na manhã de 13 de fevereiro, uma quarta-feira, quando federais disfarçados o filmaram acompanhado de Moura, amigo e ex-assessor do deputado na Força. Os agentes espreitaram por quase 3 horas o conjunto 217 do Anexo IV da Câmara, onde fica o gabinete de Paulinho, mas não chegaram a entrar.
Trecho de documento confidencial da PF informa: "Na data de 15 de fevereiro de 2008, às 17h52, Mantovani (Marcos Vieira Mantovani, empresário) confirma com João Pedro o recebimento da sua parcela do desvio do empréstimo do BNDES à Praia Grande. Ele diz que já retirou o envelope e já separou a parte do RT e do PA."
A PF suspeita que RT são as iniciais de Ricardo Tosto, advogado de Paulinho e sucessor de Moura no Conselho de Administração do BNDES, que estava preso e foi solto no último sábado. A polícia assinala oficialmente que PA "possivelmente" é Paulinho.
No capítulo dedicado à suposta participação de Ricardo Tosto, a PF faz menção a um repasse de R$ 126 milhões do BNDES ao município de Praia Grande e acentua no primeiro parágrafo: "Tosto participa da divisão do dinheiro desviado da Prefeitura da Praia Grande. A conversa entre Manuel e Boris (integrantes do grupo), do dia 23 de janeiro de 2008, às 14h46, esclarece quem seriam os beneficiados, e as respectivas porcentagens. Relembrando, Mantovani ficaria com R$ 1,3 milhão e seria o responsável pelo pagamento de Paulinho, Tosto e José Gaspar."
Foro privilegiado
Os policiais, porém, não avançaram na direção de Paulinho por uma questão legal - como deputado, ele desfruta de prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal (STF). Se incluísse formalmente o pedetista na investigação, a polícia tornaria nulo tudo o que Santa Tereza apurou, inclusive as provas colhidas sobre empréstimos irregulares concedidos pelo BNDES.
Foi no cumprimento à ordem de missão 71/08 que a PF chegou muito perto de Paulinho e dele até gravou imagens. Dois agentes federais seguiram até Brasília, "com o objetivo de registrar e identificar os encontros do alvo João Pedro". O monitoramento é ilustrado com 17 fotos - extraídas de vídeo -, também do deputado, que os federais destacaram com um círculo.
O braço direito de Paulinho embarcou no vôo 1598, da Gol. Ele chegou às 22h10 de 12 de fevereiro no Aeroporto Juscelino Kubitschek. Os federais o espionavam permanentemente."Durante todo o transcorrer do dia posterior à sua chegada em Brasília, o alvo participou de diversas reuniões e encontros na cidade", descreve o relatório. "Sempre está participando de reuniões com diversos políticos, prefeitos, vereadores, assessores. Estas reuniões têm como escopo a liberação de verbas federais."
Às 9h06 do dia 13, uma quarta-feira, Moura chegou à Câmara de táxi e seguiu para o gabinete 217, de Paulinho. Quando entrou no prédio, mostra a primeira foto do álbum, ele tinha nas mãos uma mochila. "É mister perceber, na foto abaixo, que João Pedro de Moura desembarca pela manhã levando consigo uma mochila, a qual não é mais vista com ele durante o decorrer do dia", diz o relatório.
"João Pedro reúne-se com diversas pessoas no interior do gabinete 217, saindo de lá às 9h26, acompanhado", anotou a PF.
Por quase cinco meses a PF grampeou os telefones dos investigados, com autorização do juiz Marcio Ferro Catapani, da 2ª Vara Federal de São Paulo. Manuel Fernandes de Bastos Filho, o Maneco, único foragido da Santa Tereza, e o coronel da reserva da Polícia Militar Wilson Consani Júnior foram interceptados. O primeiro é sócio da casa de prostituição W.E., na Bela Cintra. O coronel cuida do sistema de segurança.
Eles conversam rotineiramente com Moura, como no dia 28 de janeiro, às 16h41. O tema central: Tosto e Paulinho. O relatório da PF: "Conforme Manuel, Tosto ‘está podendo muito’. Consani concorda, dizendo que ‘dentro do PDT e com Paulinho pode muito’. Diz que ‘está no conselho do BNDES e ele é forte lá’."
www.estadao.com.br/nacional/not_nac163623,0.htm
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