A Polícia Civil de São Paulo decidiu indiciar o casal Alexandre Alves Nardoni, 29, e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, 24, sob a acusação de terem assassinado a menina Isabella Nardoni, 5, morta na noite de 29 de março, informa reportagem de André Caramante publicada na Folha desta quarta-feira (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).
Após o indiciamento, a polícia pedirá à Justiça a decretação da prisão preventiva do casal. A decisão ocorreu depois que a Polícia Civil de São Paulo e o Ministério Público Estadual confirmaram que Isabella foi jogada do sexto andar do Edifício London, na Vila Isolina Mazzei (zona norte de SP), pelo próprio pai.
Com base em dados preliminares elaborados por peritos do IC (Instituto de Criminalística) e de legistas do IML (Instituto Médico Legal), os delegados e investigadores do 9º DP (Carandiru) responsáveis pelo esclarecimento do assassinato da criança também têm outra convicção: Nardoni jogou a filha do seu apartamento após a madrasta da menina, Anna Carolina Trotta Jatobá, 24, ter tentado asfixiá-la.
O advogado Marco Polo Levorin, um dos defensores de Nardoni e Anna Carolina desqualificou a conclusão da polícia de que foram eles os assassinos da menina.
Na sexta-feira (18) --data em que Isabella completaria seis anos--, o casal será novamente interrogado para esclarecer o "homicídio qualificado consumado".
Perícia
Um dos relatórios elaborados por policiais do 9º DP e repassados à cúpula da Polícia Civil diz: "Na calça jeans usada por Anna na noite dos fatos há gotas de sangue recente, vinculando-a assim, de forma incontestável, à cena do crime". A polícia diz ter certeza de que a mancha não surgiu por contato da madrasta com o corpo, após a queda.
A perícia do IC também encontrou na camiseta de Alexandre vestígios de náilon que podem ser da tela protetora da janela de onde Isabella foi jogada. Uma perita afirmou que resquícios de fibra na camisa podem levar a conclusões. Isso porque, se ele tivesse cortado a tela, a quantidade de fibras seria bem maior do que se ele tivesse apenas encostado nela.
Para peritos, legistas, investigadores e delegados, as agressões de Anna contra Isabella naquela noite de 29 de março fizeram com que ela desfalecesse, passando a impressão de que ela havia morrido. Na seqüência, ainda na interpretação dos responsáveis pelo caso, Nardoni a jogou pela janela e começou a tentar simular a invasão de seu apartamento.
Um casal que mora no prédio vizinho deu uma entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, em que afirma que o pai e a madrasta de Isabella tiveram uma briga que durou cerca de 5 minutos pouco antes de a menina ser jogada da janela. A mulher afirma que "não era uma briga típica de casal, era uma briga de desespero".
O relatório que a polícia irá apresentar à Justiça para o pedido da prisão preventiva do casal já está praticamente pronto. Somente os espaços para a indicação e descrição de cada um dos laudos que ajudaram a polícia a formar a convicção contra Nardoni e Anna estão em branco no documento.
Um dos laudos mais aguardados é o que apontará que, no momento em que Isabella foi jogada do apartamento do pai, tanto Nardoni quanto Anna estavam no local.
Depoimentos
Um dia após o assassinato da filha, Alexandre Nardoni disse à polícia que a mulher estava passando por uma fase difícil por conta do choro do filho de 11 meses e que, por orientação médica, ela estava usando medicamentos.
Segundo Nardoni, Anna Jatobá não conseguia dormir e chegou a procurar uma médica, que lhe receitara dois remédios --um deles era o "Lexopran", similar ao Lexapro, indicado para tratar depressão e transtornos do pânico e de ansiedade, segundo informações da Anvisa.
Policiais avaliam se será necessário ouvir a clínica-geral que receitou o antidepressivo à madrasta da menina.
Segundo informações da polícia, a madrasta de Isabella tem histórico de violência familiar, por ter registrado dois boletins de ocorrência contra seu pai, Alexandre José Peixoto Jatobá, 45, pelos crimes de lesão corporal, injúria e ameaças. Em documentos de 2004 e 2005, ela relata ter sido agredida e ameaçada de morte por motivos de "pouca importância".
Em depoimento à polícia, Alexandre disse que se desesperou ao olhar pela janela e ver isabella no jardim do prédio. Segundo ele, neste momento levou um choque e passou a gritar.
Defesa
Para um dos advogados do casal Marco Polo Levorin, a acusação da polícia é precipitada, porque "não houve o término das investigações". "As avaliações periciais ainda não foram concluídas, nós não temos provas periciais que são importantíssimas para o presente caso. Então, não temos a conclusão do inquérito policial", disse.
"Não sabemos até agora nem a causa mortis. No nosso entendimento, há uma precipitação", completou.
A defesa do casal voltou a dizer que o casal não tem ligação com o crime e disse acreditar no envolvimento de uma terceira pessoa.
Os advogados do casal afirmam que a lista entregue à polícia com o pedido de que as pessoas indicadas sejam convocadas a depor contém indicações relevantes. Entre os 22 nomes apresentados estariam familiares, moradores do edifício onde Isabella foi morta e prestadores de serviço.
A Polícia Civil já ouviu 52 pessoas durante as investigações sobre o crime. Roupas da menina e da madrasta foram entregues à polícia. Uma das roupas, que pertencia a Isabella, teria sido usada pela menina no dia em que foi morta. Ela aparece vestindo a peça no vídeo gravado pelo circuito de segurança do supermercado Sam's Club, em Guarulhos (Grande São Paulo), horas antes do crime.
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