Restos de organismos marinhos foram achados no sítio de Monte Verde (sul do Chile).
Com idade estimada em mais de 14 mil anos, algas reforçam data de chegada à América.
Há cerca de 14 mil anos, os habitantes de Monte Verde, no sul do Chile, já consumiam um cardápio de algas de fazer inveja à moderna cozinha japonesa, além de utilizar algumas delas para tratar vários tipos de doença. É o que relatam arqueólogos americanos e chilenos, numa pesquisa que comprova a posição de Monte Verde como o sítio arqueológico mais antigo das Américas e, de quebra, indica que os primeiros habitantes do nosso continente podem ter colonizado a região descendo a costa do Pacífico por barco.
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A pesquisa, capitaneada por Tom Dillehay, da Universidade Vanderbilt (EUA), e Mario de Pino, da Universidade Austral do Chile, está na edição desta semana da revista especializada americana "Science". Os pesquisadores escavaram a região de Monte Verde, hoje localizada a meio caminho entre as montanhas dos Andes e o oceano Pacífico, durante os anos 1970 e 1980. Ainda faltava, contudo, estudar uma grande quantidade de sedimentos antigos, retirados de lareiras usadas para cozinhar e preparar remédios pelos habitantes do local.
Na nova análise, a surpresa foi achar nada menos que dez espécies de alga, das quais duas (Gigantina e Sargassum) têm apenas função medicinal. A análise detalhada das espécies revela que algumas eram mascadas para esse fim. "Elas possuem alta quantidade de iodo e outros nutrientes e, a julgar pelo que vemos entre tribos atuais do Chile, serviam para tratar problemas como doenças intestinais, pulmonares, talvez até gripe", conta Dillehay.
Usando o método do carbono-14, que mede o desaparecimento ao longo do tempo de uma forma radioativa do elemento carbono, os pesquisadores chegaram a uma idade "em anos de radiocarbono" de 12,3 mil anos para as algas, o que, convertido para "anos de calendário" por uma série de procedimentos matemáticos, dá a elas uma idade de cerca de 14 mil anos.
Outras datas parecidas já haviam sido obtidas em Monte Verde, mas a oriunda das algas tem relação direta e inequívoca com a atividade humana no sítio -- afinal, nenhum animal teria tido o cuidado de secar os organismos marinhos e carregá-los por cerca de 100 km, distância entre Monte Verde e o mar naquela época.
O que nos leva à questão principal, para Dillehay: a familiaridade com recursos marinhos provavelmente significa que os habitantes de Monte Verde são os descendentes de uma longa linhagem de colonos que desceram o Pacífico em barcos, vindos do nordeste da Ásia. O impressionante é que cada alga cresce em locais diferentes da costa, em épocas diferentes do ano, o que implica grande familiaridade com o ambiente marinho e visitas freqüentes ao litoral.
"Andar 100 km até a costa parece absurdo para nós, povos modernos, mas sabemos que caçadores-coletores atuais andam até 35 km por dia. E eles provavelmente não iriam até lá numa linha reta -- iriam parando pelo caminho para obter outros recursos. No todo, acho que estamos falando de cerca de uma semana de viagem indo e voltando", declarou Dillehay ao G1.
"É claro que eles poderiam não ter ido até lá, mas sim obtido as algas por meio de comércio com outros grupos. De qualquer maneira, o uso amplo de recursos em Monte Verde denota grande conhecimento das condições naturais da região, o que provavelmente sugere que esses grupos estavam por lá há um tempo razoável", afirma o arqueólogo. Para se adaptar de forma tão precisa ao ambiente costeiro das Américas, o pesquisador e seus colegas calculam que a chegada dos seres humanos ao continente aconteceu há pelo menos 16 mil anos.
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL463476-5603,00-PRIMEIROS+AMERICANOS+USAVAM+ALGAS+COMO+COMIDA+E+REMEDIO+DIZ+PESQUISA.ht
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Um comentário:
???
nw entendi nada
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