Comissão que investigou a repressão afirmou que não há evidências de ligação entre Irã e xiitas que lideraram manifestações
iG São Paulo
revoltas no Bahrein afirmou nesta quarta-feira que
as autoridades lançaram mão de tortura e "força excessiva" contra os detidos nas
manifestações que acompanharam a tendência dos eventos ocorridos em países do
Oriente Médio e no Norte da África, conhecidos como Primavera Árabe.
O líder de uma comissão especial que investigou a
repressão utilizada contra as
Foto: Reuters
Manifestantes agitam bandeiras nacionais do Bahrein (29/9)
Mahmoud Cherif Bassiouni - fazendo seus primeiros comentários oficiais sobre as descobertas do relatório - também afirmou que não há evidência de ligações entre o Irã e os xiitas que lideraram os protestos em uma clara repreensão aos líderes do Golfo que acusaram Teerã de ter um papel fundamental nos distúrbios do reino.
O estudo, autorizado pelos governantes sunitas do país em uma tentativa de diminuir as tensões, é o documento mais abrangente sobre as ações da força de segurança durante as revoltas que têm se espalhado pelo mundo árabe desde o início do ano.
O governo sunita prometeu não conceder imunidade a
qualquer um suspeito de abusos e disse que proporia a criação de uma comissão
permanente de direitos humanos. "Todos aqueles que infringiram a lei ou
ignoraram ordens e instruções serão responsabilizados", disse um comunicado do
governo, que afirma que o relatório reconhece que a "prática sistemática de maus
tratos" terminou pouco depois de a lei de emergência ter sido revogada em 1º de
junho.
O relatório de Bassiouni - lido durante coletiva na qual participou o rei do Bahrein - confirma as expectativas de que o documento seria altamente crítico aos oficiais no estratégico reino, que abriga a Quinta Frota americana. O texto completo do relatório, que abrange o período entre 14 de fevereiro e 30 de março, era esperado para ser divulgado mais tarde nesta quarta-feira.
Os xiitas correspondem a 70% da população do Bahrein, que tem 525 mil cidadãos, mas têm reclamado de ampla discriminação, como o impedimento no exercício de cargos altos no governo ou no Exército.
O relatório lançou uma luz sobre as táticas usada contra os manifestantes que já haviam sido observadas por grupos de direitos humanos: prisões em massa, expurgos dos locais de trabalho e universidades, destruição de mesquitas xiitas e abusos em casas de detenção. O documento de 500 páginas ressalta que muitos presos apanharam, tiveram os olhos vendados, foram chicoteados, levaram choques e foram ameaçados de estupro para confessarem crimes.
Os confrontos entre manifestantes e forças de segurança deixaram ao menos 35 mortos, incluindo agentes policiais. "Detentos foram torturados (...) o que prova que havia uma prática deliberada por alguns", disse Bassiouni.
Os investigadores, no entanto "não descobriram nenhum papel desempenhado pela República Islâmica iraniana". A descoberta contrasta com as alegações dos líderes do Bahrein e de aliados do Golfo de que o país persa, governado por xiitas, tinha participação na revolta.
No começo do mês, autoridades do Bahrein afirmaram que prenderam cinco suspeitos de pertencerem a uma célula terrorista iraniana que planejava ataques, incluindo um contra o embaixador saudita na capital Manama. "Você encontrou deficiências reais de algumas instituições do governo", disse o rei do Bahrein, Hamad bin Isa Al Khalifa, a Bassiouni, professor de direito penal nascido no Egito e ex-membro do painel de direitos humanos da ONU.
"Alguns podem se perguntar por que chamamos uma comissão de fora do país. Nossa resposta é: qualquer governo que tem um desejo sincero de reforma e progresso deve estar ciente do benefício da crítica construtiva."
Embora o derramamento de sangue e o caos no Bahrein
seja pequeno em comparação com outras revoltas do mundo árabe - incluindo os novos protestos no Egito - o conflito na ilha
ressoa de Teerã a Washington.
O Bahrein é um aliado dos EUA e Washington tomou medidas cautelosas: pediu aos
líderes do país para abrir mais o diálogo com a oposição, mas evitou demasiada
pressão pública.
Algumas autoridades americanas deram sinais de uma crescente impaciência com os governantes do país. Um acordo de US$ 53 milhões em armas com o Bahrein está suspenso até que seja feito um exame detalhado do relatório.
O Bahrein é visto como um ponto de inflexão na região liderada pela poderosa Arábia Saudita que não quer que seu exemplo se espalhe. O reino também é visto como uma linha de frente contra a influência iraniana. A monarquia sunita árabe e seus influentes xeques consideram quaisquer ganhos no xiita Bahrein significativos para conter o poder do Irã.
Os problemas no Bahrein não são novidade. Por
décadas, os xiitas têm feito pressão para ganhar voz no governo. Seguindo a
tendência da Primavera Árabe, os manifestantes xiitas ocuparam uma praça na capital Manama em fevereiro -
apenas alguns dias depois de multidões terem tomado conta da Praça Tahrir, no
Cairo, para celebrar o fim da era Mubarak.
Semanas depois, forças de segurança investiram
contra as passeatas na Praça Pearl e impuseram uma lei de emergência. Centenas de
ativistas, líderes políticas e profissionais liberais xiitas, como médicos,
advogados, enfermeiras e atletas, foram presos e condenados por crimes contra o
Estado em julgamentos realizados a portas fechadas em um tribunal especial de
segurança que estava estabelecido durante o estado de emergência.
Três manifestantes foram sentenciados a penas de morte e muitos líderes da oposição foram condenados à prisão perpétua. Os governantes do Bahrein ofereceram algumas concessões, inclusive dando mais poder ao parlamento e abrindo o chamado "diálogo nacional" para as reformas.
Com AP e BBC
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