Faltou a vitória da Seleção
Brasileira para a festa no Maracanã ter sido mais bonita. O estádio mais famoso do País reabriu as portas para clássico do futebol mundial entre os ingleses, que inventaram o
esporte, e os anfitriões, que o
transformaram em arte. Apesar da boa atuação no primeiro tempo, os comandados de Felipão não conseguiram transformar o volume em gols e deixaram o campo amargando o empate por 2 a 2 e a manutenção do tabu de quatro anos sem vencer uma seleção colocada entre os primeiros do ranking da Fifa.
Passional como sempre, o
torcedor alternou momentos de irritação, como na substituição de Oscar por Lucas – quando Hulk era o preferido para sair –, e aplausos, tímidos é verdade, ao fim da partida. O fato é que há muito tempo o brasileiro não via o time se apresentar com tanta consistência como no primeiro tempo. Dois, três passes eram suficientes para que a bola chegasse em Neymar ou Hulk, em boas condições para finalizar. O que faltou foi eficiência para vencer o goleiro inglês Joe Hart.
No primeiro jogo após anunciar a transferência para o Barcelona, Neymar parecia disposto a mostrar que o investimento dos espanhóis valeu a pena. Com a dez que eternizou Pelé e Zico, ele chamou a responsabilidade e criou dois grandes momentos para marcar. Aos 17, se livrou da marcação e chutou para grande defesa de Hart. Quatro minutos depois, o ex-craque do Santos fez tudo sozinho e chutou colocado, bem perto do ângulo direito.
O melhor momento do Brasil, porém, foi com Hulk. O atacante recebeu cruzamento de Daniel Alves e tentou de letra, mas a bola caprichosamente saiu à esquerda. Três minutos depois, os ingleses responderam com Walcott, que recebeu na área e bateu cruzado para grande defesa de Julio César.
No segundo tempo, o Brasil enfrentou a defesa inglesa muito bem postada. Felipão ousou ao trocar o combativo Luiz Gustavo pelo ofensivo Hernanes. E foi dos pés que jogador da Lazio que saiu o primeiro gol. Aos 11, ele acertou um belo chute no travessão e, no rebote, Fred mandou à rede.
O que era festa rapidamente se transformou em decepção. Aos 21, Chamberlain, de primeira, acertou o canto direito de Júlio César para empatar. Tudo piorou aos 32, quando Rooney mandou no ângulo e virou a partida: 2 a 1.
O silêncio tomou conta do estádio. As 66 mil pessoas presentes ao Maracanã pareciam não acreditar, quando Paulinho diminuiu o vexame. Aos 36, de voleio, ele marcou um golaço, e empatou o jogo.
Mas a igualdade não foi suficiente e os brasileiros foram embora com a sensação de que poderia ter sido melhor.
Estádio tem falhas no primeiro teste
O olhar atônito dos torcedores ao chegar ao novo Maracanã se misturava com as queixas dos mais exigentes, que flagraram sérios problemas para um estádio construído com padrão de excelência mundial e que se prepara para ser protagonista na Copa das Confederações, a partir do dia 15.
O amistoso entre Brasil e Inglaterra mostrou que ainda falta muito para que haja conforto ao torcedor, dentro e fora do estádio. O ponto alto do esquema logístico foi a qualidade dos transportes públicos. O metrô e os trens urbanos circularam bem, o que deu à torcida condições de chegar e sair sem maiores contratempos. O sistema de segurança também funcionou, apesar de cambistas e ambulantes circularem pela área rotulada como restrita. A ação deles foi reprimida e houve a prisão de pelo menos dois cambistas. A falta de torcedores rivais ajudou na paz.
Dentro do estádio, foram vários aspectos negativos. O mais grave, a precariedade dos banheiros. Pequenos, logo ficaram sem material de higiene. Em alguns, faltou água. Os bares também desagradaram. Havia pouca variedade e tudo era muito caro. Um pacote de amendoim, por exemplo, valia R$ 7. Um cachorro-quente, R$ 8. Um refrigerante, R$ 7.
Além disso, as cadeiras estavam sujas e muitos torcedores não respeitaram o lugar marcado no ingresso, mesmo com a presença de voluntários para ajudar na organização. Os deficientes reclamaram que não tinha estacionamento apropriado e também tiveram dificuldade para locomoção.
Do lado de fora, não faltou o jeitinho brasileiro. Para evitar as filas nos portões, quando o horário do jogo começava a se aproximar, foi dada a ordem pelos organizadores de dispensar a passagem pelos detectores de metais.
Estrela de Fred brilha e atacante marca o 1º gol do novo Maraca
A estrela do atacante Fred segue brilhando. Acostumado a jogar no Rio de Janeiro, já que atua no Fluminense, o goleador teve poucas oportunidades de deixar sua marca no empate de ontem contra a Inglaterra. Mas no segundo tempo, aproveitou rebote após bonito chute de Hernanes e marcou o primeiro gol em jogos oficiais do novo Maracanã.
“É uma honra muito grande para mim. Era comentado entre nós quem ia fazer este primeiro gol. Ainda bem que foi comigo. Infelizmente, não foi o resultado que esperávamos. Mas nós demos o nosso máximo, principalmente no primeiro tempo. Criamos muitas oportunidades, mas a bola não quis entrar”, afirmou o camisa nove.
Com o gol marcado na tarde de ontem, o atacante se consolidou ainda mais como artilheiro da segunda era Felipão, que reassumiu o comando da equipe em novembro do ano passado, após a demissão de Mano Menezes. Até agora, Fred marcou quatro vezes.
Neymar tem atuação discreta em outra função na equipe
A estreia de Neymar com a camisa da Seleção Brasileira no Maracanã não teve o brilho esperado. Aliás, o craque jogou com a dez ao invés da 11. Principalmente no primeiro tempo, atuou em função um pouco diferente no time de Luiz Felipe Scolari, sendo encarregado de marcar mais a saída dos ingleses ao ataque.
Com a bola nos pés, ensaiou seus dribles. Saindo de fora da área, teve a jogada mais incisiva aos 22 minutos do primeiro tempo, quando entrou driblando pela esquerda e chutou para o gol. A bola passou perto da meta de Hart.
Na segunda etapa, teve atuação ainda mais apagada. Chegou a jogar mais à frente, perto de Fred, mas pouco criou. “Jogar com a dez é uma honra, tantos craques jogaram com essa camisa”, declarou Neymar, que viajou ontem mesmo para Barcelona, onde se apresentará hoje ao novo clube, às 13h. Amanhã, retorna à Seleção Brasileira, para se preparar para o amistoso de domingo, contra a França, em Porto Alegre.
Felipão ironiza e promete repetir time
O clima descontraído que marcou os primeiros dias de trabalho da Seleção Brasileira no Rio de Janeiro deu espaço à tensão após o empate com a Inglaterra. Na entrevista coletiva, Felipão foi irônico, principalmente quando questionado sobre a entrada do volante Fernando na vaga de Hulk quando o jogo já estava 2 a 2.
“Esqueci o direito de tentar a virada porque não jogo para perder”, respondeu Felipão, que emendou: “É piada”, referindo-se à pergunta. O repórter retrucou: “Mas você foi medroso”; e o treinador achou melhor colocar panos quentes. “É um jogo que não vai mudar nada na nossa vida. Contra o Japão (na abertura da Copa das Confederações), se estiver ganhando por 1 a 0, aí sim vou fechar. Ou abrir, se a necessidade for outra”, comentou.
O treinador parece ter gostado da atuação brasileira, tanto que prometeu repetir a escalação no próximo amistoso, domingo, contra a França, em Porto Alegre. “Provavelmente, no decorrer da semana, a equipe que deve começar o jogo em Porto Alegre será 90% ou 100% do time de hoje (ontem)”, ressaltou o treinador.
Felipão citou preocupação com Oscar, que fez a 71ª partida na temporada, e Fred, que se recupera de fratura incompleta na costela. Ambos devem ser menos exigidos nos treinos. O técnico também espera evolução de Luiz Gustavo, que só fez um treino com o grupo antes do jogo.